Recap Mensal de Singles AT | Janeiro (2024)


Começando a inédita recapitulação mensal de singles do Aquele Tuim.

Começando a inédita recapitulação mensal do Aquele Tuim dos mais recentes singles, temos em Janeiro, um mês propenso para novos começos, rollouts de novas eras e novas iterações de trabalhos já consolidados, e parece que os artistas realmente se empolgaram com esses temas. Tanto nomes novos quanto antigos lançaram materiais impressionantes das mais variadas formas, em especial, alguns antigos que finalmente realizaram sua primeira faixa de destaque em anos. Além disso, notamos também uma certa frequência de temas mais obscuros e uma quebra maior de paradigmas e construções. De qualquer forma, direto para a lista.




6. 
“Tear Gas”
Skydaddy & Tyler Cryde

Membro da banda indie britânica Spang Sisters, Skydaddy inverte completamente a estética, sonoridade e emoção duma antiga faixa, de 2017, nessa colaboração com Tyler Cryde, baixista e vocalista da banda Black Country, New Road. O resultado é uma canção de uma sensibilidade adorável e exímia. Lenta e pesada, ambos intérpretes calculam cada flutuação na voz e cada dedilhada no violão para não poupar esforços na intensidade sensorial da composição. Com essa ideia em mente, até o suave craquelar da voz se torna uma textura essencial, assim como as impressões invisíveis e a fragilidade do silêncio. Pode ser simples, mas é de uma execução tão primorosa que sua simplicidade se torna seu maior trunfo ao precisar de pouco para dizer muito.

Selo: Bathtime Sounds
Gêneros: Folk / Chamber Folk, Chamber Pop
Assista ao videoclipe aqui.




5. 
“Generator”
Justice

Finalmente! Desde 2007, o duo francês Justice vem tentando expandir as barreiras sonoras de seu primeiro LP, † (Cross, também nomeado Justice), mas sempre falhando ao diminuir drasticamente o nível de complexidade das composições, ou ao reduzir quase que por completo a crueza cortante dos sintetizadores ríspidos presentes no debut, amado até hoje. Mas com “Generator” — lado B de um single com Kevin Parker, do Tame Impala — eles parecem que finalmente acertaram a cabeça do prego.

Influenciada diretamente pelo darksynth — movimento derivado do synthwave, esteticamente mais obscuro —, a faixa apresenta batidas robóticas, grossas e potentes, sintetizadores horripilantes, linhas de baixo dançantes e uma progressão de uma maestria que não víamos do duo há quase duas décadas. É uma volta ao som antigo, mas inteiramente repaginada por uma estética mais refinada, uma experiência mais robusta e pelos artistas que eles mesmos influenciaram. Como grande fã do debut, mal posso esperar por Hyperdrama, que lança em 26 de abril.

Selo: Ed Banger
Gêneros: Eletrônica / French Electro, Darksynth
Ouça aqui.




4. 
“Nothing To Declare”
MGMT

Após o deprimente resgate de um synthpop/new wave disfuncional em Little Dark Age, o duo estadunidense parece ter cansado de brincar de anos 80 e avança um pouco no tempo para um teste com o folk psicodélico dos anos 2000, agora em tempos atuais. O resultado é uma de suas melhores faixas, que atua como um grande diplomata ao conciliar o adocicado violão com estocadas suaves de sintetizadores, a percussão simplista com os vocais nublados e as ambiências psicodélicas da neo-psych com os manejos revivalistas do folk psicodélico de bandas como The Microphones. Cada camada separada acaba perdendo grande parte de seu brilho, mas quando todas se unem, a mágica por trás desse conto de fadas se mostra evidente e fabulosa.

Selo: Mom+Pop
Gêneros: Folk / Indie Folk, Folk Psicodélico
Assista ao videoclipe aqui.




3. 
“Wendorlan”
Squarepusher

Mais um retorno triunfal, “Wendorlan” é drill and bass transformado em pura intensidade desconcertante. O talento de Squarepusher para escolher texturas ligeiramente estranhas e agudas é inegável, seu talento para programar percussões e manipulá-las de forma inesperada, mas sempre dançante e cerebral, também é. Entretanto, fazia tempo que tamanha técnica não havia sido exposta tão bem como em seu mais recente single, “Wendorlan”, que é um dos mais caóticos e divertidos do produtor em muitos anos. A faixa tem de tudo, de glitches de dar susto de tão súbitos à sintetizadores ácidos em ritmos enlouquecedores, mudanças repentinas dos breaks em ordens incertas, ambiências esquisitas que chegam ao caso sem aviso prévio e muito, muito mais. Mas, mesmo tão desorientadora, a música ainda é, sem sombra de dúvidas, profundamente divertida, deixando o ouvinte boquiaberto e engajado por toda a sua duração.

Selo: Wrasse Records
Gêneros: Eletrônica / Drill and Bass
Assista ao scope vid aqui.




2.
“30 (Freestyle)”
JID

É ridículo. Esse rapper é incapaz de não efetuar uma performance de alto nível. Tirando da frente o beat hipnotizante e sutilmente detalhista, nos dado pelos extremamente talentosos Christo, famoso pelas colaborações com o próprio JID, e Conductor, famoso pela produção impecável em discos do coletivo Griselda, o que nos resta é uma ostentação de rimas e métrica da mais que impressionante pelo artista principal.

A maneira como JID utiliza o esquema de rimas em si, já intrincado em várias etapas, para pavimentar o caminho para as trocas de flow é uma raridade de se ver, e mais difícil ainda é ser tão profuso e denso nisso e ainda conseguir brincar com os sentidos das palavras e com a própria escrita e oralidade delas, mas mesmo assim o rapper faz tudo isso e ainda de forma excelente. A música vicia tanto pelo instrumental quanto pelo verso, mesmo que não tenha nenhum elemento pop ou naturalmente viciante. Majestoso.

Selo: Independente
Gêneros: Hip Hop / Jazz Rap
Assista ao visualizer aqui.




1. 
“Spinning”
Julia Holter

Mal começamos 2024 e já temos uma grande concorrente para música do ano! Em “Spinning”, Julia Holter cria uma das obras de art pop mais frágeis, delicadas, inusitadas e surpreendentes dos últimos anos, combinando concepções complicadíssimas em um estilo singelo e visivelmente fluido. O instrumental pega ideias industriais, na repetição, no vapor, e junta com tendências pós-minimalistas da utilização do saxofone e modelo de composição, mas não só isso, ela também unifica tais conceitos com elementos psicodélicos, o que forma um produto cuja sonoridade jamais foi apresentada ao mundo, embora seja indiscutivelmente pop. É alucinante, terapêutico, desconfortável, comovente e vividamente rítmico, tudo ao mesmo tempo e em intensidades variáveis, de forma que se torna uma verdadeira bomba sentimental.

Mas mais que isso, “Spinning” é como um relógio, marcando o próprio tempo à medida que passa, em que o ouvinte consegue notar a repetição de um evento como demarcação temporal, pelo qual ele se localiza na faixa para então pensar no que irá possivelmente acontecer. É uma linda forma de compor uma música, focando na relação que o ouvinte tem com a progressão da faixa em si e no que Julia tem a oferecer em cada detalhe mínimo, cada percussão esparsa e cada reversão e inversão estrutural, não somente na sonoridade, nas texturas e escolhas já riquíssimas, mas especialmente na forma como a faixa se desenrola.

Por fim, é possível notar o quão verdadeiramente genial a canção é quando ela provoca uma sensação ao ouvir pela segunda, terceira, quarta vez. Aquela de já se deliciar e ansiar pelos momentos subsequentes dela, de esperar que aquela sensação inigualável se repita, porque você sabe que vai, afinal, é uma música perfeita.

Selo: Domino
Gêneros: Pop / Art Pop
Assista ao videoclipe aqui.



Menções Honrosas:


“And I’m Gone”
femtanyl

Batendo a cota de música internética do mês, femtanyl mostra todo o seu potencial em breaks instantaneamente infecciosos, ritmos saltitantes, sintetizadores velozes dignos de um jogo de corrida e clipes vocais sanguinários.

Selo: SpikeChain
Gêneros: Eletrônica / Footwork Jungle, Hardcore Digital



“Baby”
Geese

Disponível somente no YouTube, Geese coloca todas suas melhores qualidades na vitrine ao fazer um dos melhores covers de tempos recentes, uma repaginação completa, tocante, engraçada e genuinamente linda de “Baby”, de Justin Bieber.

Selo: Independente
Gêneros: Rock / Pop Rock, Indie Rock, Blues Rock



“BACKR00MS”
Playboi Carti

Também exclusiva do YouTube (por enquanto), “BACKR00MS” é mais um acerto de Carti, se destacando como um passo numa direção estética jamais tomada antes. Viciante, engraçada e sombria, a faixa apresenta uma inovação completa no que entendemos como trap, sensivelmente e sonoramente.

Selo: Opium
Gêneros: Hip Hop / Trap




“BYE BYE”
Kim Gordon

Facilmente o single mais experimental do mês, Kim Gordon demonstra estar em toque pleno da atualidade aos 70 anos, produzindo uma peça que intercala o rage de Playboi Carti com seu estilo de noise rock, agora mais mecânico que nunca.

Selo: Matador
Gêneros: Rock / Hip-Hop / Rock Experimental, Rage, Noise Rock, Hip Hop Industrial




“Crowded Roomz”
Nia Archives

Nossa programadora de bateria favorita, Nia Archives, retorna com sua música mais reconhecível, dançante, reconfortante e acessível até hoje, com seus já esperados cortes de bateria fantásticos e, de forma inédita, uma utilização refrescante de guitarras indie.

Selo: HIJINXX
Gêneros: Eletrônica / Pop, Drum and Bass, Indie Pop




“HISS”
Megan Thee Stallion

Megan lança uma de suas ocasionais gemas com uma agressividade inarredável, potência certeira, mudanças de flows sutis e letras afiadas e ácidas. Cada linha é um tiro atrás do outro, para todos os lados e, mesmo assim, todos caem no meio do alvo.

Selo: Hot Girl Productions
Gêneros: Hip-Hop / Hardcore, Trap




“Kool-Aid”
Bring Me The Horizon

O mais novo single do enorme rollout da nova era de Bring Me The Horizon é, talvez, o melhor deles, em que a busca incansável pelo maximalismo não atrapalha a diversão, o pitoresco, o intenso e o violento, combinando todos de forma excepcional.

Selo: Sony UK
Gêneros: Metal / Metal Alternativo, Metalcore




“Passionfruit”
Elkka

Às vezes tudo o que precisamos é uma produtora habilidosa dispondo sua técnica maravilhosa durante nove minutos de um gostosíssimo house, e Passionfruit é isso, um temperinho e um pouquinho mais.

Selo: Ninja Tune
Gêneros: Eletrônica / Ambient House, Microhouse




“rUN tHE FaDE”
Eyedress & 1999 WRITE THE FUTURE

"rUN tHE FaDE" excede as expectativas impostas dentro de si mesma, fascinando com esmo pelo seu trabalho textural poderoso, emoção nua e, contraditoriamente, doçura impecável.

Selo: 88Rising, RCA, Sony
Gêneros: Rock / Indie Rock, Shoegaze, Noise Pop



Ouça a playlist:

Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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