Crítica | Cyberbaile


★★★☆☆
3/5

É cada vez mais constante a sensação de que o funk e algumas de suas vertentes têm aderido, com maior frequência, a elementos da música eletrônica formal como uma parte solúvel, ou seja, que são à parte dos beats tradicionais do gênero. São timbres que se aproximam muito do house, techno e drum and bass, dialogando diretamente com as ideias de composição tipicamente estouradas e aceleradas que encontramos no mandelão.

Essa percepção, no entanto, varia bastante de DJ para DJ, pois depende sobretudo da forma, o jeito individual, como cada um aplica, tecnicamente, os traços de música eletrônica que estão dentro de seu repertório. Há nomes como Adame DJ, que evitam distinções mais explícitas, fazendo com seu som seja brilhantemente difuso nas influências de house e techno; o completo oposto do que faz DJ Rosa Boladão.

Em Cyberbaile, sua prensagem de funk com eletrônica é sutilmente controlada num nível tão exatico quanto metodológico, criando essa ponte sem demarcações rígidas. É quase imperceptível. Na faixa de abertura, “Cyborg”, por exemplo, o som mais ambiente que logo é tomado por caixas secas e batidas de house soa quase comum ao lado da acapella de MC utilizada. As variações ao longo da faixa acontecem a partir da introdução dos graves do funk, que explodem as caixas, e de uma eletrônica com ares chill dos anos 2010, que recebe essas interferências sem grandes disrupções.

Essa mescla sutil se mantém ao longo de todo o disco, em alguns momentos se tornando mais evidente, como em “Radiant Future”. Nela, os traços de house, daquele tipo mais comum em festas eletrônicas de rooftop, passam a contrastar de forma imersiva com o funk. O interessante é que, enquanto o lado eletrônico se manifesta por estéticas até convencionais, os samples vocais introduzem a profundidade que torna o som mais atraente, diferente ou mesmo inusitado. E esse talvez seja o maior acerto de DJ Rosa Boladão: fazer sua mistura funcionar, mesmo que para isso recorra a uma certa modéstia de elementos.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk / Eletrônica

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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