Crítica | truculence


★★★☆☆
3/5

Não é novidade para ninguém que estamos vivendo em tempos voláteis, onde a humanidade caminha passo a passo para a sua inevitável aniquilação. Nossas profundas crises (climática, social, política) geram humanos dessensibilizados em frente a barbárie do dia-a-dia. Não faz muito tempo que testemunhamos 700 mil mortes por um vírus mortal - chegando em seu ápice a 3 mil óbitos por dia no Brasil - e ainda assim, parecemos não assimilar todas essas perdas.

Os últimos anos da nossa nação se resumem em controle das narrativas, em que as classes dominantes propagam os seus interesses acima de qualquer moralidade. Frente a esse cenário surreal, o nosso underground reagiu de diversas formas. Seja pela denúncia direta e pela indignação, seja pelo deboche a essas figuras esdrúxulas. Alguns exemplos recentes são os álbuns Necropolítica do emblemático grupo Ratos de Porão e o álbum mais recente do Mukeka di Rato, Generais de Fralda. Em Truculence, o Facada nos propõe uma abordagem diferente: devolver na mesma moeda.

“Por que Truculence e não Truculência? Porque quisemos dessa forma.” Avisa a banda no post que anunciou o seu sexto disco de estúdio para o mundo. Na era em que a narrativa virou moeda de troca para os facínoras de nossa existência, o grupo cearense de grindcore entende a importância de ser dono de sua própria história. “A verdade é entrelinha, só pra você saber”. Truculence, o primeiro álbum de estúdio após Quebrante e o segundo lançamento do Facada em 2025, após o split Em sincronia com o fim do mundo com a banda paulista Rot, são 15 minutos da mais fina porradeira sem dó nem piedade, que recusa a postura conciliatória e passiva frente às elites dissimuladas.

Truculence me impressiona principalmente pela sua produção clara e opressiva. O assalto sonoro proporcionado pelo Facada me parece bem mais refinado e focado que nos lançamentos interiores. A veia crust presente no álbum fornece aqui uma atmosfera forte que me remete bastante a bandas como Nails e Wormrot. Liricamente, me chama a atenção a recusa da banda de dar nomes aos bois, o que intensifica ainda mais a atmosfera surreal. As 12 músicas do álbum são marcadas por uma agressividade latente, e essa recusa pela clareza é adereçada ppr eles mais uma vez: “Quando as palavras não resolvem, a atrocidade toma conta para resolver”. E Truculence, aptamente intitulado, é um arsenal de violência contra um mundo intolerante.

Compre: Bandcamp
Selo: Black Hole Productions, Läjä Records
Formato: LP
Gênero: Metal / Grindcore, Crust Punk
João Pedro Leopoldino

Interessado principalmente em música, filme e literatura. Sou graduado em Administração e natural de Fortaleza/CE. Além do aquele tuím, escrevo no meu substack pessoal chamado "falando em línguas".

Postagem Anterior Próxima Postagem