Crítica | Muganga


★★★★☆
4/5

No Nordeste existe uma expressão para caracterizar uma pessoa que comumente se expressa ou faz algo diferente da maioria — o mugango ou muganga, dependendo do estado em que a expressão é utilizada — pode ser designada como um conjunto de características comportamentais de indivíduos que subvertem as convenções do chamado padrão de “normalidade” da sociedade.

Em seu EP Muganga, a artista pernambucana Idlibra usa essa expressão como ferramenta fundamental para construir seu primeiro trabalho, este que funde aspectos da música eletrônica com brega funk, afrobeat e assim por diante — o que acentua a escolha do título para o projeto.

Muganga possui cinco faixas em seu corpo completo, todas com características e expressões sonoras próprias, entretanto, o fato de serem sonoramente distintas não afeta em nada o conjunto da obra, apenas deixa claro a criatividade de Idlibra em pensar e criar peças que são tão diferentes entre si, mas que quando juntas se complementam de alguma forma, dando a devida coesão que se espera de um projeto como este.

As experimentações que são entregues nas fusões com eletrônico, por exemplo, em “Breganbass”, “Ração”, “Memame”, peças permeadas por elementos de drum and bass combinados com algum outro ritmo nacional, destacam a importante presença de artistas como Idlibra nessa nova era em que experimentar é uma maneira de romper com fórmulas e entregar projetos inovadores que superam os parâmetros de criação com música na cena brasileira— o que me deixa contente de ver criadores brasileiros empenhados em materializar obras ambiciosas e subversivas.

A muganga de Idlibra faz jus à expressão popular nordestina, ou melhor, eleva-a a outro significado criativo — é o nascimento de uma artista sem medo de criar experimentos sonoros interessantes e prontos para subverter as convenções.

Selo: Fábrica Estúdios
Formato: EP
Gênero: Eletrônica / Techno, Drum and Bass
Joe Luna

Futuro graduando de Economia Ecológica (UFC), 22 anos. Educador ambiental, e redator no Aquele Tuim, onde faço parte das curadorias de MPB, Pós-MPB e Música Brasileira e Música Latina/Hispanófona. Além disso, trago por muitas vezes em minha escrita uma fusão com meu lado ambientalista.

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