Crítica | Submundo


★★★☆☆
3/5

Nos últimos anos, está cada vez mais comum se deparar com intercâmbios entre o estilo de produção do funk com os mais diversos gêneros da música eletrônica global — em especial, a europeia, e, às vezes, a americana. No Brasil, isso se manifesta com uma intensidade um pouco menor, pois, até certo ponto, não temos um cenário concreto que envolva a produção original desse tipo de música eletrônica — pelo menos não um que tenha um relativo destaque fora de technos hiper nichados. Porém, quando lançamentos do chamado “Hard Baile” ou do “Chill Baile” vêm à tona, eles normalmente têm um alto índice de qualidade.

Submundo, de Gabrieu, faz parte dessa conexão Brasil-Europa na música eletrônica, sendo que se encaixa de maneira excelente nela. Com quatro faixas, o EP se divide em lado A e lado B, inspirados pelo hard techno e pelo drum and bass, respectivamente. Diferente de seus contemporâneos, a forma como o produtor usufrui e utiliza desses estilos não é feita de maneira literal ou despropositada, muito pelo contrário; há um cuidado em extrair o mais escuro e grosso caldo de tais gêneros, um cuidado que, frequentemente, leva o ouvinte a ter pequenas, doces surpresas dentro das faixas. Dessa forma, ao girar ao redor dessas ideias, Gabrieu escapa da linha da mediocridade, nos leva até um local de genuíno interesse e alcança um patamar de sujeira invejável.

Mesmo assim, é um pouco decepcionante a quantidade ínfima de elementos do funk no projeto, o que pode levar a uma sensação de instrumentalização do gênero pelo entendimento relativamente raso de seus múltiplos significados e conflitos grotescos. Uma sensação de que, talvez, o produtor quisesse apenas escrever alguns technos e dnbs sem, necessariamente, ignorar sua identidade brasileira. Dito isso, Submundo segue sólido como um curto, leve experimento que instiga e diverte os que escolherem apostar ouvir 14 minutos de pura imundice e energia.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Eletrônica / Funk, Hard Techno, Drum and Bass
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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