Crítica | Museum Music


★★★★☆
4/5

Ao percorrer o que as pessoas costumam chamar de hip hop experimental, você terá um conjunto diversificado de personagens e tipos de música para estudar. Em uma extremidade, você encontrará um rap semi-formulaico com um design de som levemente diferente— KIDS SEE GHOSTS é um bom exemplo dessa tendência de "art rap" — e na outra extremidade, você encontrará um tipo de música que dificilmente pode ser chamada de rap, que ultrapassa os limites do gênero como se estivesse prestes a detonar; você encontrará artistas como Edward Skeletrix.

A abordagem do sr. Skeletrix à esfera do rap é diferente de tudo o que você já viu antes: como a maioria, ele é extremamente incisivo e crítico em relação ao que constitui a cultura, só que de uma forma verdadeiramente radical. Ele vai muito além de seu artista de hip hop habitual, desconstruindo os elementos mais básicos de um beat — rage, plugg, cloud, o que for — de forma semelhante àquela adotada por SOPHIE na sua interpretação da música club britânica: todas as bases estão presentes, apenas irreconhecíveis. Isso se aplica não apenas à produção crua e minimalista, mas também às performances absurdas de Skeletrix, que quebram a normalidade por meio da extrapolação das inflexões vocais de Playboi Carti.

Essa atitude de "vão pro caralho, foda-se tudo sobre vocês", que lembra o já mencionado Playboi Carti e o JPEGMAFIA de 2018, faz com que a música encontrada aqui assuma uma posição não apenas de arte, mas também de uma representação perfeitamente encapsulada de quem Skeletrix é e como ele se retrata no rap. Ele é uma bola fora da curva, mas não bobo; ele quer nos destruir, obliterar completamente a norma. Em total desconsideração à criação de música para ser compreendida, o rapper punk prefere criar o intraduzível – por isso seu outro álbum se chama Skeletrix Language.

Museum Music é um teste para o público do rap, uma peça abstrata por meio da estrutura e do design de som, e não da lírica – embora alguns temas sejam tão confusos quanto os leads de rage descontextualizados. Os beats são desossados até que tudo o que resta é um conjunto de reflexos; nem uma única imagem visível fica parada. Não há um único artista de hip hop que esteja fazendo essa abordagem de "morder, arrastar, cuspir" no design de som. Mais ninguém está reduzindo os beats ao ponto de serem uma colagem de flashes descontrolados de melodias borbulhantes do Serum. Mais ninguém trata a produção de cloud como uma desculpa para testar os limites dos samples, do drone e do vazio. Mais ninguém vê o flow como uma aquarela de gases densos que se misturam e reagem de maneiras altamente imprevisíveis. Nunca entenderei Museum Music; pelo menos fico feliz que mais ninguém entenderá também. Que ótima maneira de começar o ano.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Glitch Rap, Rage, Deconstructed Club

Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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