
4/5
Nunca mexa com Lily Allen. Já sabemos disso desde seu primeiro disco, já que a cantora pop é conhecida pelas suas letras ácidas e cheias de indiretas. E com West End Girl, ela está mais ácida do que nunca, ao expor seu conturbado casamento com o ator David Harbour. Que até antes da separação, era visto como o casamento dos sonhos. E nesse disco, Lily conta absolutamente toda ruína desse relacionamento, sendo extremamente corajosa em expor todo o lado grotesco da sua vida. E é justamente por isso, que o projeto se torna tão interessante.
A sonoridade aqui é um pop eletrônico, que foge um pouco daquele tradicional que agrada qualquer um. Isso fica evidente na dançante "Ruminating", onde a alegria da batida contrasta com a dor e insegurança de alguém recém-traído. No entanto, Lily quebra essa atmosfera de club classic com a lenta "Sleepwalking", que remete aos seus primeiros trabalhos. Nessa balada, a cantora desabafa sobre o esgotamento emocional, a falta de intimidade e a manipulação em seu casamento. Essa é para chorar.
"Tennis" é uma das minhas favoritas. Aqui, Allen usa a metáfora de "jogar tênis" como uma traição. E o melhor, é quando ela encaixa a pergunta "Who's Madeline?" algumas vezes na canção, quebrando o clima e deixando tudo mais naquele clássico tom irônico que ela faz desde o início de sua carreira.
Mas afinal, quem é essa tal de Madeline? A faixa "Madeline" explora um pouco dessa história, abordando uma comunicação difícil entre duas mulheres e os sentimentos de Lily em relação à traição, como baixa autoestima e de sentir-se velha e feia. Apesar do tema triste, a música diverte com sua sonoridade de faroeste e barulho de armas. Uma das mais brilhantes do disco.
"Pussy Palace" segue a sonoridade do seu antecessor, o injustiçado No Shame. E é uma canção impossível de ser ignorada. Aqui, Lily expõe ao extremo o seu ex-marido, relatando ter encontrado centenas de camisinhas, plugs anais e lubrificantes no apartamento do ator de Stranger Things, que era usado como o seu palácio da putaria, onde ele traía Lily com centenas de mulheres.
Em "4chan Stan" vira um total esculacho ao ator. Ela o deprecia tanto e provoca toda a atitude tóxica do seu ex infiel, acusando-o de se esconder atrás de aparências. Eu dei muita risada aqui, não vou negar. E acho mais do que certo todo esse desprezo por um cara que não a respeitou.
A canção "Nonmonogamummy", em parceria com Specialist Moss, também segue a linha No Shame e até o seu debut Alright, Still com a influência reggae. Liricamente, a artista expõe aqui todo o seu desconforto ao tentar salvar um casamento falido com uma relação aberta. É mais uma canção cheia de honestidade sobre os seus próprios sentimentos e não uma propaganda anti relacionamentos abertos.
Eu sei que o texto está longo, mas são muitos detalhes impossíveis de ignorar. Como na canção "Just Enough", balada calminha e sentimental, em que a artista aborda temas delicados como ter feito procedimento estético para se sentir mais atraente para o seu parceiro, além de comentar sobre uma possível vasectomia do marido e suspeitar dele ter engravidado outra mulher. "Dallas Major" é outro grande destaque por aqui. Nela, Lily assume uma nova identidade para lidar com o fim do seu casamento. Mas o melhor aqui, é sem dúvidas o instrumental, principalmente a linha de baixo, que deixa tudo mais envolvente.
West End Girl talvez não seja o disco mais revolucionário da música pop, mas é autêntico ao expor toda a vulnerabilidade de Lily Allen. Além disso, torna-se um excelente exemplo reflexivo sobre o papel feminino no casamento, especialmente quando a mulher está em uma fase mais madura e se sente negligenciada com o passar do tempo. Infelizmente, esse é um sentimento comum que atinge muitas mulheres, mas nem todas falam abertamente sobre isso. Neste trabalho, Lily não tem medo de expressar todas as suas dores e sentimentos, tornando-se um grande exemplo de força e coragem feminina.
Selo: BMG
Formato: LP
Gênero: Pop
Formato: LP
Gênero: Pop