Crítica | DEADBEAT


★★★☆☆
3/5

Reinvenção artística é algo bem-vindo para a discografia do projeto Tame Impala, do artista Kevin Parker. Mesmo que sua abordagem musical já fosse bem realizada, é interessante ver uma visão artística transformada, inclusive de forma a dar uma variação em sua obra musical. Nesse sentido, à princípio, a pretensão por caminhar no espaço da música dance eletrônica parecia uma ideia promissora, principalmente pelo antecedente de Tame Impala em trabalhar com estilos eletrônicos alinhados à psicodelia, como fez em seu disco de 2020, The Slow Rush – uma divertida visão da música disco em um espaço hipnotizante, surreal da neo-psicodelia.

Trata-se que DEADBEAT é, na verdade, um álbum carente de substância em sua visão EDM. Isso ocorre pois Tame Impala utiliza de visões extremamente superficiais e vazias dos estilos eletrônicos que busca operar. Faixas como “Not My World”, “Piece Of Heaven” e “See You On Monday (You're Lost)” são canções muito desinteressantes, pra dizer o mínimo. Além das melodias e timbres de sintetizador inofensivos, que é a característica negativa mais central dessas composições, a primeira é uma faixa house cujos aspectos mais animadores do gênero estão quase ausentes, em batidas dance sem força. A última é ainda mais inefetiva em suas abordagens; é a pior tentativa que já tiveram de criar algo psicodélico, como se o termo tivesse perdido o sentido para eles de uma hora pra outra. A peça se apoia sobre sintetizadores com efeitos que pretendem um tom hipnótico, nebuloso, mas que é tão genérico que recai em um território de alt-pop misturado com synthpop comum, tornando-o mais próximo de algo que a Taylor Swift lançaria no Midnights do que de fato as aventuras na psicodelia dos discos passados de Tame Impala.

Existem, no entanto, momentos de muito êxito em DEADBEAT, tornando-o não uma experiência desanimadora por completo, porém uma mistura de percepções mistas: positivas e negativas. “Dracula” é de longe a melhor canção aqui. É um nu-disco que trabalha muito bem a partir dos timbres de sintetizadores e construção melódica que trazem uma sensação intrigante que intensifica a atmosfera noturna. “Ethereal Connection” é ditada por bumbos arrebatadores e com ritmo incessante do techno – é um dos poucos momentos em que a abordagem totalmente voltada à música eletrônica é realmente surpreendente. Outro destaque é a faixa inicial, “My Own Ways”, um house com energia instigante ditada pelas melodias constantes de pianos que, junto às batidas repetitivas do house, criam uma tensão sem igual.

No geral, a sensação que fica é a de uma transformação artística deficiente, que se afasta do pop psicodélico rico e criativo que o Tame Impala construiu como sua principal identidade sonora, em direção a uma visão alinhada ao house e a outros estilos de música dance eletrônica que, embora em tese pudesse soar interessante, na prática resulta em uma música eletrônica tão inofensiva que, em diversos momentos, funciona apenas como mero som de ambiente.

Selo: Columbia
Formato: LP
Gênero: Pop / Dance-Pop, House

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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