Crítica | Sentimental Palace


★★★★☆
4/5

Quando lançou o incrivelmente sonhador Par de Olhos, em 2019, Yasmin Mamedio, nome por trás do projeto YMA, abordava um rock estruturalmente difuso, que transitava pelo dream pop com um interesse profundo em transpor a nostalgia como forma de expandir suas narrativas surrealistas. Seis anos depois, seu novo álbum, Sentimental Palace, busca recompor outro tipo de sentimento. O som agora soa mais maduro, com elementos que se distanciam pela margem do tempo. São instrumentos de sopro posicionados como alegorias à sua ode à própria psicodelia, mantendo laços com o rastejar lento da voz e com os arranjos que instigam um dream pop à sua maneira. Desta vez, há uma incursão mais clara por terrenos férteis de avanços estéticos.

Lagosta, Ostra”, com Jup do Bairro, é a faixa que melhor traduz essa impressão. Começa com arranhões de cordas e ruídos de boca mastigando; logo depois, as puxadas de cordas e as batidas vão crescendo enquanto o instrumental, sem um tom definido, guia a estrutura confusa, mas deliciosamente caótica, até a entrada de elementos que chutam a rogativa do jazz e que contrastam com a forma como ambas cantam e organizam o ritmo. É, de longe, o melhor momento do álbum, e seria interessante se houvesse mais faixas nessa direção. Na sequência, “Rita”, com Sophia Chablau, não chega a esse nível, mas conquista da mesma forma: há dedilhados de piano, ruídos sutis e acordes pra lá de retrô, que conferem um charme nostálgico à faixa.

Em Sentimental Palace, esse olhar entre o que ela já fez e o que busca trazer como sendo algo novo adquire um sentido criativo surpreendente, como se YMA buscasse evocar um sentimento antigo de seus acenos rock ao alternativo brasileiro. Essa postura dialoga com a impressão que ela vem desenvolvendo nos últimos anos, visível, por exemplo, na parceria com Jadsa em Zelena e no excelente single “Aquilo que habito”. No álbum, há ainda momentos como “fritar na areia!!”, que reafirmam sua intenção de disparidade em relação a projetos passados e uma consonância maior com referências da pós-MPB, dada pelo uso de elementos mais atuais no que se refere a atos de experimentação – não necessariamente experimentais – dentro do registro, como os drums desordenados que criam uma espécie de pico de adrenalina eletrônica na faixa e no corpo do álbum em si. É um movimento que dá fundamento aos trejeitos de YMA de explorar aspectos da sua música brasileira, e talvez de mais ninguém.

Selo: Matraca
Formato: LP
Gênero: Pós-MPB / Pop

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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