Crítica | Do Janga ao Caos


★★★★☆
4/5

O discurso do desenvolvimento sustentável é a arma capitalista que perpetra o agravamento dos imbróglios ambientais existentes no Brasil e estes estão comumente ligados também às mazelas sociais que atingem as capitais brasileiras. A especulação imobiliária tem destruído paisagens e colocado em risco vegetações nativas, principalmente nas zonas litorâneas com a perda de vegetação do ecossistema de manguezal, responsável pela captura de CO2 na atmosfera e que evita a erosão dos solos costeiros, o que o torna primordial no combate às mudanças climáticas e manutenção da biodiversidade.

E, alinhado a essa análise social e ambiental, chegamos no EP Do Janga ao Caos, do rapper pernambucano Rico duJanga, que passeia a partir de um repertório musical-manifesto pelas ruas e águas litorâneas de um Pernambuco afundado em dificuldades sociais e ambientais, ocasionados pelo avanço do capital acima do meio ambiente e bem-estar da população local, ao mesmo tempo que faz uma ode protestante à música regional usando como motor sustentador figuras locais que fazem parte da construção da identidade nordestina.

Do Janga ao Caos, antes de ser um projeto que faz grande uso do manguebeat e de referências nordestinas com o rap, é também uma música crítica e incisiva em relação à realidade vivida por Rico, que se vê através do ambiente em que está inserido. A miséria, a fome e a criminalidade são produtos da ascensão do capitalismo nas questões socioambientais — culpa da ganância insaciável daqueles que possuem capital, que não se importam se cidades e mais cidades afundam figurativa e literalmente.

No registro, ainda, as construções que ocupam áreas de vegetação nativa e a segregação das comunidades locais e tradicionais são muito bem destacadas nos versos de duJanga, que utiliza metáforas ágeis e cheias de indignação para que as denúncias cheguem ao receptor e possam, assim, ser feitas de forma criativa e crítica. É um trabalho político que vê a música como um espaço muito importante para expressar a revolta que o artista sente e que nos convida a discussões e reflexões. É uma visão profunda do tempo e do espaço que vivemos e vemos diariamente.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Hip Hop / Manguebeat
Joe Luna

Futuro graduando de Economia Ecológica (UFC), 22 anos. Educador ambiental, e redator no Aquele Tuim, onde faço parte das curadorias de MPB, Pós-MPB e Música Brasileira e Música Latina/Hispanófona. Além disso, trago por muitas vezes em minha escrita uma fusão com meu lado ambientalista.

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