Crítica | ASSALTOS E BATIDAS


★★★☆☆
3/5

FBC já provou, mais de uma vez, sua habilidade em transitar por diferentes estilos musicais, adotando variadas estéticas e conceitos. Ex-integrante da DV Tribo, Fabrício construiu uma trajetória livre de padrões fixos, abraçando com força a arte de experimentar. No entanto, com o lançamento de Assaltos e Batidas, reencontramos o Fabrício que assinou o clássico S.C.A, só que agora com mais anos de carreira e maturidade artística.

Abordando temas voltados à comunidade, os integrantes da DV sempre apresentaram personalidades marcantes, que refletiam a realidade cotidiana da periferia. Episódios como “Diáspora" contribuíram para que o mineiro e seu grupo ganhassem visibilidade, especialmente entre o público acostumado com o rap do eixo RJ-SP, rompendo a bolha que frequentemente limita a ascensão de artistas independentes fora dessa região. ASSALTOS E BATIDAS resgata essa característica marcante que fez com que FBC se destacasse nas batalhas de rima em BH.

Se em BAILE FBC se aproximava do funk mineiro, do miami bass misturado com o hip hop, e em O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA explorava uma sonoridade de balada, próxima ao dance music, ASSALTOS E BATIDAS muda a rota. O álbum aposta em um boombap “feito à mão”, como o próprio FBC brinca nas redes, mas aqui não é algo potente e característica principal do projeto.

Fabrício sempre esteve presente em pautas sociais, utilizando seus canais, seja nas redes ou nas próprias músicas, para realizar denúncias. Neste álbum, isso se intensifica. Ele adota um tom sarcástico e provocativo para criticar, como na faixa “Você pra Mim é Lucro". O projeto carrega uma potente mensagem política, retomando sua essência militante e reafirmando a rima como instrumento de afronta e discurso social.

Do início ao fim, somos conduzidos por um retrato cru dos percalços enfrentados pela classe baixa no Brasil, com críticas diretas ao capitalismo e ironias afiadas ao consumismo. Assim, FBC constrói um manifesto que evoca a “Voz da Revolução”, também título de uma das 11 faixas do álbum. Além dos versos firmes, ele utiliza samples que ampliam o alcance da mensagem, como “Capítulo 4, Versículo 3”, dos Racionais MC’s, presente na faixa “Assaltos e Batidas".

Para o público que passou a acompanhar o trabalho de Fabrício a partir de BAILE, o novo projeto pode soar destoante em relação aos discos anteriores. No entanto, ao utilizar a notoriedade conquistada nos últimos anos, o artista amplia o alcance de seu manifesto, alcançando ouvintes que talvez ainda não tivessem tido contato com sua mensagem e criando, assim, a oportunidade de reacender o debate sobre luta de classes e desigualdade social.

Selo: Xeque Mate Estúdios
Formato: LP
Gênero: Hip Hop/ Rap, Boombap
Talita Mutti

Estudante de Jornalismo, 21 anos. Obcecada por música e fotografia desde a adolescência. No Aquele Tuim, faz parte da curadoria de Hip Hop.

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