Crítica | Flowers


★★★★★
5/5

Encanto talvez seja a palavra que melhor define a musicalidade do Durand Jones & The Indications. Desde os primeiros lançamentos, o grupo nunca precisou disputar espaço para provar seu valor. O pertencimento à linhagem mais pura do soul e do R&B sempre foi evidente, com um som cru, emocional e atemporal. Em Flowers, quarto álbum da carreira, esse compromisso com a herança do gênero ganha contornos ainda mais refinados, mergulhando com tudo na estética dos anos 70 em arranjos orquestrais, vocais quase espirituais e letras emergidas em diversas sensações.

Se Private Space (2021) levava o grupo adentro ao jazz-funk, Flowers é um retorno ao coração do soul. Em 10 faixas, o álbum se constrói em uma narrativa coesa, onde cada música floresce com delicadeza e dimensão própria. Afinal, o nome do álbum traz um significado forte de amadurecimento, renascimento e sensibilidade, temas que guiam a estética e emoção do disco.

A abertura com “Paradise” entrega algo nostálgico, a faixa remete à suavidade de Sade, com uma ambiência que poderia perfeitamente embalar uma noite de verão. Em “Lovers’ Holiday”, o clima retrô toma conta com uma balada romântica digna dos nuances do The Stylistics ou dos arranjos envolventes de Barry White. “I Need To Answer” parece nos fazer flutuar — melódica, sensível, com vocais que deslizam em instrumentais feito brisa. Já “Flower Moon” ganhou ainda mais significado por ter sido lançada próxima ao fenômeno lunar de maio de 2025. A coincidência parece intencional pois há algo de astral em todo o disco, como se o renascimento emocional proposto por ele estivesse diretamente ligado à natureza.

E no final, o disco ganha outro enfoque, em “Really Wanna Be With You” há muita energia e os vocais de Durand brilham sob um eminente saxofone. Em “Been So Long”, a mais ouvida até agora, o conforto da voz de Aaron Frazer, sempre delicada, guia uma melodia sinestésica que embala cada segundo ouvido. E “Everything”, transparece serenidade. Então, chega “Rust and Steel” — talvez o momento mais melancólico do álbum. Aqui, a banda mergulha no passado com vulnerabilidade, misturando memórias e presente num arranjo que parece suspenso ao tempo.

O álbum se encerra com duas joias: “If Not For Love” e “Without You”. A última, com sua atmosfera dolorosamente romântica, e com samples advindos diretamente de “We Belong Together”, de Mariah Carey. E ambas compartilham o lamento por um amor perdido. Sou completamente suspeita para falar de qualquer canção, porque essa é uma das minhas bandas favoritas no mundo — e não escondo o quanto sou apaixonada por tudo que eles fazem.

Mas dito isso, Flowers é, sem dúvida, um dos discos mais belos e consistentes de 2025. Um trabalho deslumbrante, que respeita as raízes do soul e posiciona o Durand Jones & The Indications como uma das bandas mais autênticas da neo-soul contemporânea.

Selo: Dead Oceans
Formato: LP
Gênero: R&B / Soul, Neo-Soul

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

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