Crítica | HARD SUBMUNDO


★★★★☆
4/5

Desde meu último texto sobre o Christopher Luz e seu segundo LP TODO MUNDO ODEIA, percebo um movimento de apoio e identificação com o trabalho do artista muito importante por parte do público e, sobretudo, de pessoas LGBTQIAPN+. Isso indica não só que o produtor está apostando em tendências de forma assertiva, mas que tem entregado bons trabalhos e aprimorando sua identidade. Em HARD SUBMUNDO acompanhamos a combinação desses dois fatores em um EP que não se preocupa com nada além de divertir.

Era evidente que recriar músicas populares de grupos femininos do k-pop que agradam a bolha LGBT em uma roupagem bruxaria uniria tribos. Além de construir essa ponte entre dois mundos que na verdade nem são tão são opostos — o funk mandelão e a música pop mainstream internacional — o artista impulsiona um movimento que ocorre principalmente em mídias alternativas, como o soundcloud, de produtores em ascensão ou já consagrados que promovem seu trabalho a partir desse tipo de remix.

As faixas “JUMP HARD SUBMUNDO” e “GNARLY HARD SUBMUNDO” já eram lançamentos populares e consagrados nos sets do artista — que inclusive foi um dos mais divertidos que tive o prazer de aproveitar nos últimos meses. O que temos de inédito na composição do EP são duas faixas que trazem mais elementos do hard techno para o repertório do DJ, incluindo os ótimos vocais de MC LyC4n e MC Buraga e parcerias com nomes consagrados como HALC DJ e DJ ZL na quarta faixa, sem falar da brilhante DJ Alexia em “WIPLASH HARD SUBMUNDO” que, apesar do ótimo feat, encerra o trabalho de forma um pouco morna.

Já havia comentado sobre a potencialidade do artista de combinar elementos e gêneros musicais, mas que desta vez, soam um pouco mais afinados. Para mim, é um tanto quanto arriscado combinar k-pop e funk uma vez que existam grandes chances de parecer com um “phonk” artificialmente aromatizado, feito mais para exportar uma tendência musical do que para aquecer as pistas nos bailes de submundo. Isso foi evitado não só ao utilizar hard techno como uma liga entre os dois universos, mas também pela impressão digital do DJ que fica marcada na experiência auditiva.

No fim das contas o EP consagra Christopher como uma espécie de “antevasin” da bruxaria que transita muito bem entre dois mundos, de forma autêntica e mais preocupado em se divertir do que forçar um movimento migratório em direção a outros estilos em busca de alcançar o mainstream. Isso faz com que nos cresça o desejo por um álbum completo no estilo de faixas como “EXTREMO HARD SUBMUNDO” que incorpora de forma muito interessante o hard techno no funk sem fazer uso de samples famosos (sem querer demonizá-los). Por aqui, ainda seguimos amando o Chris.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Funk / Eletrônica

Lucas Granado

Mestre em Letras, nascido em Curitiba nos anos 2000. Me considero um híbrido entre as gerações 'y' e 'z', o que me torna explorador dos clássicos, mas também aberto às novidades do mundo da música. Participo da curadoria de Funk do Aquele Tuim desde 2025.

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