Os melhores discos de música experimental de 2025



Uma lista com Negro Leo, Walt McClements, Los Thuthanaka, JJJJJerome Ellis, Joanne Robertson, Eliana Glass, Vanessa Rossetto, Lucy Liyou, Lia Kohl e mais!

É quase impossível definir um estilo, um gênero ou uma ideia fixa em nossas listas de música experimental. É, de longe, uma das curadorias mais diversas e diferentes a cada ano que passa. Parte desse aspecto imutável se dá a quantidade de discos e artistas que descobrimos, nos são indicados ou que voltam aos nossos radares com excelentes discos. Em 2025 não poderia ser diferente, e cada obra aqui simboliza um pedacinho dessa diversidade, dessa constante reformulação de estéticas e sons. É a lista favorita dos editores!

A presente lista foi elaborada a partir de uma votação interna, considerando o top 15 individual de todos os nossos redatores, pensando na curadoria de música experimental, com discos selecionados de 15/11/2024 a 15/11/2025.



30. Clube da Mariposa Mórbida - Akira Umeda & Metal Preyers



Apesar de superficialmente apresentar uma aparência industrial, metálica e rítmica, esse trabalho colaborativo possui na fluidez seu maior destaque. São elementos sintéticos desestruturados a ponto de transformarem-se em aparições fantasmagóricas, o que traz um contraste muito potente para com as armaduras firmes e densas de algumas batidas. A atmosfera soturna implica em tensão, ocasionalmente resolvida em relances melódicos doces, outras vezes sustentadas à exaustão. Um trabalho de contrastes. - Pedro Antunes de Paula



29. On a Painted Ocean - Walt McClements



Grande parte da tradição do drone de música experimental está atrelada a uma anti-devoção ao silêncio, ao contrário do que parece. Embora apele por um minimalismo em seus tons que se aprofundam nos acordes de acordeão, o novo álbum de Walt McClements, On a Painted Ocean, está longe de ser quieto, estático ou qualquer sinônimo de contemplação ao ambiente. É um disco movido pela força de seus instrumentos, da sua constante crescida e do seu pico, atingido com calor, barulho, ainda que uníssono, daquilo que ouvimos ao longo de sua duração. - Matheus José



28. Mapambazuko - Ale Hop, Titi Bakorta



Mapambazuko é muito especial não apenas pela inserção dos ritmos africanos, mas a articulação deles é única, mesmo se tratando de estruturas naturalmente comuns para ouvintes de música popular. A união entre a música eletrônica e os elementos acústicos é louvável, momentos memoráveis de diversão do início ao fim do álbum. - Tiago Araujo



27. Ouroboros - DJ Guaraná Jesus



Absolutamente frenético, diverso e, como um paradoxo, apresenta energia dissipada em diversos caminhos da música eletrônica, ao mesmo tempo que soa consistente, objetivo e concentrado. A paisagem fria e digitalizada de Ouroboros não impede a pressão de suas batidas gerarem calor. Cheio de fricção e tensão, o trabalho tem seu trunfo na multiplicidade estética e na sugestão de caminhos sonoros que oscilam entre o labirinto e a tautologia de suas batidas. - Pedro Antunes de Paula



26. Blurrr - Joanne Robertson



Em Blurrr, Joanne Robertson transforma a fragilidade em matéria-prima, esculpindo uma sonoridade onde o folk minimalista se dissolve em improvisos espectrais, ao lado do violoncelo de Oliver Coates, seus acordes de violão soam dilatados e propositalmente empoeirados, sustentando vocais que, mais do que cantar, assombram as faixas como murmúrios distantes, criando uma atmosfera de intimidade crua que não busca o polimento, mas a beleza inquietante da imperfeição e do tempo suspenso. - Antonio Rivers



25. Tessera - JQ & Richard Pike



Tessera é a primeira colaboração oficial de JQ (Joe Quirke) e Richard Pike, que se conhecem há um bom tempo e trabalham juntos em instalações artísticas e projetos paralelos. Aqui, há a fusão exata dos mundos de ambos. O som assume frequências meditativas, com melodias que perduram por longos instantes e texturas que acenam para o dub e o techno – esta parte mais voltada ao que Richard Pike sabe fazer de melhor. É como se JQ propusesse um estado de tonalidade estático, que sofre poucas variações, com grafismos new age, enquanto Pike surge para perturbar e contrastar com o que seu colega oferece. - Matheus José



24. BLINDINGLY ALTERNATE FUTURES AND THE LONG ANTICIPATED
MURDER/ SUICIDE OF FRUTIGER AERO - 2003 Toyota Corolla



O trabalho conjura espaços abandonados em um futuro perdido através do som do colapso de seu medium: o ruído, a indefinição. As faixas aqui estão todas imersas nessa névoa que distancia o ouvinte da textura imanente da obra, como se já estivessem sido corroídas pelo tempo ou sequer tivessem tido a condição de existir. Uma memória inscrita que nunca alcança sua materialização plena: está presa nesse instante anacrônico entre as falhas de sua tecnologia, é um espectro, um fantasma. - Pedro Antunes de Paula



23. Even the Horizon Knows its Bounds - Lawrence English



“Gosto de pensar que o som aterroriza a arquitetura”, comenta Lawrence English na nota para o álbum no Bandcamp. Esforço colaborativo de 11 músicos – entre eles Jim O’Rourke e Claire Rousay – e pensado para ser tocado em espaços abertos, a arquitetura sonora desenvolvida por esse conjunto é esparsa e imersiva e estuda as fronteiras emocionais e físicas das sonoridades desenvolvidas. Alguns dos momentos mais melancólicos e poderosos da música em 2025 estão aqui. - João Pedro Leopoldino



22. Trinity - Lawrence English & Stephen Vitiello



O terceiro disco colaborativo entre Lawrence English e Stephen Vitiello, Trinity, é recheado de nomes que agem na dianteira do som que eles firmam aqui com certa condescendência. Soa próximo do que ambos trabalham em suas respectivas carreiras, mas, em unidade, fornece elementos extras e uma mescla de símbolos do léxico de cada colaborador, que parece querer transbordar em sua esfera criativa multidisciplinar. Todas as faixas contam com a presença de algum artista do espectro dos gêneros que English e Vitiello exploram. - Matheus José



21. Runway Cremations - African- American Sound Recordings



Runway Cremations é um disco que possui uma ambientação sólida e muito tensa ao longo de sua duração, a técnica principal do álbum são as gravações de campo, que se unem a uma forma mais densa de música ambiente. Os amantes de álbuns que se baseiam em atmosferas e músicas mais lentas, com crescendos mais demorados vão encontrar um tesouro neste disco. - Tiago Araujo



20. SCORPIO FALLING - Kelman Duran



Escolher qual som (e de qual forma) compõe a música que produz, é um trabalho preciso e político para Kelman Duran. Se nos trabalhos da década passada fazia isso com o peso do soundsystem e do reggaeton, aqui o que encontramos é uma bricolagem da música negra afro-caribenha e americana quase coberta por uma névoa densa que costura diferentes sonoridades. Duran estica, acelera e constrói loopings, nunca isolando historicamente o material que carrega, mas cruzando as temporalidades. - Leonardo Zago



19. Vesper Sparrow - JJJJJerome Ellis



É de se encantar quando os fragmentos vocais de palavra falada surgem, musicados, na terceira peça do novo álbum de JJJJJerome Ellis, Vesper Sparrow. Por trás da voz está o saxofone, gaguejando suas notas como os cinco jotas de JJJJJerome. Isso é descrito como parte de sua linguagem: as barreiras que foram superadas em torno da gagueira, suas raízes negras e o som, que assume contornos descritivos tão vivos quanto seu cuidado em fazer com que cada música represente seus pensamentos atuais, não apenas do agora, mas também da distância entre o ontem e o amanhã. - Matheus José



18. The Ancients - The Ancients



Remetendo aos trios de Free Jazz de Cecil Taylor e Ornette Coleman, The Ancients traz a liberdade e a criatividade que sempre esperamos nesse tipo de álbum. Cada um dos instrumentistas brilha à sua maneira, e mesmo que muitos confundam o “livre” desse estilo de Jazz com desorganização, é majestosa a forma como eles criam um trabalho tão técnico e com tanta criatividade ao mesmo tempo. Definitivamente uma experiência única para qualquer ouvinte. - Tiago Araujo



17. Sen’nyū - Meitei



Em Sen’nyū, Meitei mergulha nas águas termais de Beppu para reconstruir o presente através do som. Abraçando o kankyō ongaku (“música ambiental”), o artista trabalha registros sonoros de vapor, fluxos de água, pessoas e demais presenças em uma composição viva. As faixas fluem como as casas de banho, unindo sintetizadores e gravações de campo num registro quase documental, sem exotismo, filtrada por sua sensibilidade onírica. - Leonardo Zago



16. amor de encava - Weed420



amor de encava transcende o mero experimentalismo para se firmar como um manifesto de epic collage visceral, manipulando a técnica do plunderphonics para saturar a salsa e o merengue até o ponto de ruptura, o álbum converte a nostalgia em uma textura abrasiva de glitch e ruído, construindo uma viagem sonora em que dançar sobre os escombros digitais se torna a única forma possível de processar o luto de uma realidade fragmentada. - Antonio Rivers



15. Errant Ear - Brunhild Ferrari



Em álbuns de musique concrète o mais especial é sempre se deixar levar pela construção de texturas. Burnhild Ferrari faz esse trabalho de forma majestosa em Errant Ear. A criação musical é equivalente à criação de cenários, uma experiência verdadeira sinestésica e que demonstra uma forma de aproximação entre a escuta e a experiência que é muito exclusiva desse estilo musical. Um álbum para escutar em uma caminhada tranquila - Tiago Araujo



14. Off Tracks - Éric La Casa e Jérôme Noetinger



Transformando a arquitetura do abandono em partitura, Off Tracks subverte a gravação de campo ao torná-la um ato de invasão física, manipulando a musique concrète, Éric La Casa e Jérôme Noetinger convertem o silêncio de edifícios vazios em texturas táteis, cuja deterioração urbana e ecos fantasmagóricos deixam de ser cenário para se tornarem protagonistas de uma experiência tridimensional que nos obriga a ocupar o desconforto e a memória desses espaços em ruína. - Antonio Rivers



13. RELA – Negro Leo



A notificação do WhatsApp dá o tom, e, de aplicativos de relacionamento até a carnalidade mais escrachada e hedonística possível, RELA teoriza sobre o amor na era digital. Trocar os instrumentos de corda pela música eletrônica é o mais condizente para esses tempos, e, como todo bom camaleão, Negro Leo perpassa do chillwave até o piseiro, nesse fluxo de ideias, o orgasmo é a única saída lógica. - João Pedro Leopoldino



12. Traveling Light - Rafael Toral



Traveling Light coloca os standards do jazz no centro, mas Toral expande cada acorde e nota com sua guitarra e sintetizadores. Os sopros reforçam a melodia original, mas a manipulação do tempo e da textura cria versões suspensas, em que a familiaridade e a abstração coexistem em drones atmosféricos e precisos. - Leonardo Zago



11. How do i know if my cat likes me - Hanne Lippard, Ellen Arkbro, Hampus Lindwall



O trabalho do trio satiriza um cotidiano ultraprotocolar de uma sociedade hipercapitalista através do diálogo minimalista entre os sintetizadores meditativos e contínuos com texto e performance cênica apática e utilitária vocal. Constroem um mundo povoado por salas de espera e interfaces autômatas. O charme da estética corporativa, o erotismo tecnológico constroem um mundo associal, vazio. Onde o design superou a própria humanidade e, em seu primor, funciona para si mesmo. - Pedro Antunes de Paula



10. Muzak for the Encouragement of Unproductivity - Jasmine Guffond



Um ato político e também uma peça musical sublime. Tentando criar uma antítese à Muzak, trilha sonora da exploração capitalista desde a década de 30 (que se metamorfoseou em playlists lo-fi para concentração nos dias atuais), Guffond cria uma peça em três partes que reverbera, literalmente, como um som saído dos galpões vazios da Amazon. Lenta demais, pausada demais, instigante e emotiva demais, é a música ambiente que simplesmente não serve como plano de fundo para os “trabalhos de merda”. - Leonardo Zago



9. Gift Songs - Jefre Cantu-Ledesma



Gift Songs se arrasta por longas tomadas como se hesitasse em entrar em uma espiral de monotons cujos drones apontam o tempo todo, sempre captando sons e ambientes que partem do princípio de que a música é um presente, e que deve ser tecida a partir de condições únicas para obter, talvez, o melhor resultado possível desse processo. - Matheus José



8. Medio Grave - JLZ & GG



Contrapondo a esterilidade da IA com a tecnologia da gambiarra, Médio Grave hackeia a lógica do som de aparelhagens para elevar a estética dos paredões à vanguarda. JLZ e GG Albuquerque distorcem frequências médias na caixa cachorro até que samples pop e a pirataria se fundam num caos meticuloso, onde a incompreensão lírica é proposital e serve para documentar a inteligência subversiva do piseiro, revelando uma sofisticação técnica que converte a saturação e o ruído em identidade cultural. - Antonio Rivers



7. E - Eliana Glass



Em “Human Dust”, texturas ambíguas e um minimalismo ardente se constroem em dedilhados que crescem até a efusão total. Nesse ápice, a relação de Eliana Glass com o piano se revela como centro de sua criação. Ela declama versos com força, guiando uma leitura serena e rítmica do texto de 1969 de Agnes Denes, num murmúrio quase épico de 7 minutos. A faixa sintetiza sua busca por unir passado e presente em direção ao agora, e marca sua estreia com E como uma das melhores da atualidade – sem exageros. - Matheus José



6. Live at Widney High December 26th, 1971 - The Pan Afrikan Peoples Arkestra



Operando como um canal mediúnico onde o som se torna o elo tangível entre o ancestral e o divino, esta obra dissolve as amarras da composição tradicional para instaurar um regime de anarquia espiritual. Aqui, o jazz deixa de ser apenas um gênero para virar uma ferramenta de insubmissão que, guiada unicamente pela potência da vontade e pela urgência da palavra, esculpe uma das sessões mais belas já registradas. - Antonio Rivers



5. Pictures Of The Warm South - Vanessa Rossetto



Vanessa Rossetto tem marcado presença ao longo da década como uma das mais interessantes artistas de todas. Pictures Of The Warm South é mais um de seus álbuns que expande o limite da compreensão do que é música. A maior parte do álbum é construída por meio de gravações de campo e cenas do cotidiano, unido à duração de mais de duas horas, pode ser que afaste à primeira vista alguns interessados. Contudo, os que arriscarem e quiserem ir mais longe com o álbum não vão se arrepender. - Tiago Araujo



4. Various Small Whistles and A Song - Lia Kohl



Eu sou refém da capacidade de Lia Kohl de tornar vivas recordações, sons e texturas que sempre aparecem em suas obras como parte de sua comunicação, que se dá por uma relação íntima e humana tão tocante e viva que chega a causar um certo distanciamento de nós e do que ouvimos. Ela busca contrariar essa sensação em Various Small Whistles and A Song, com base em assobios, tratando-os como um elo de aproximação e modéstia, já que todos assobiamos. E tudo, pra ela, pode se fundir em relações, contato, linguagem. É lindo. - Matheus José



3. Every Video Without Your Face, Every Sound Without Your Name - Lucy Liyou



Poucas vezes vimos um disco tão humano quanto Every Video Without Your Face, Every Sound Without Your Name. Aqui, Lucy Liyou vai além da exposição de temas que podem representar, vez ou outra, o desencargo de consciência referente ao amor — ela está propondo, apenas do seu ponto de vista e de mais ninguém, o quão vividas são suas lacunas preenchidas pelo processo de autocura, desbravamento da dor e o que se observa de longe, do que foi-se ao vento. - Matheus José



2. sleep with a cane - Klein



Acompanhar Klein é saber que haverá surpresa. Sleep with a cane resgata o início de sua carreira, unindo música ambiente, colagem, gravações de campo e ativismo. Há reportagens, drones no limite do ruído, disparos que remetem ao cenário armamentista dos EUA e feats que vão de segundos a longos minutos. Não é um álbum: é um mergulho no universo singular de Klein, onde surgem algumas respostas, muitas dúvidas e a briga entre um peso no peito e um alívio na nuca. - Leonardo Zago



1. Los Thuthanaka - Los Thuthanaka



O grande triunfo de Chuquimamani-Condori e Joshua Chuquimia Crampton no trabalho é a emoção imensa do perigo. Os sons da dupla boliviano-americana ameaçam o corpo em suas saturações, são perigosos porque acometem o ouvinte pela iminência de sua própria violência. O caos não se instaura porque se dissipa em momentos singelos em um trabalho que articula a memória andina e seus elementos tradicionais distorcidos e desmembrados pela amplificação digital. É, sobretudo, permanência. - Pedro Antunes de Paula

Aquele Tuim

experimente música.

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