
★★★☆☆
3/5
Com uma proposta descontraída e que passeia por diversos elementos da cultura pop, o segundo compilado de inéditas de Christopher Luz traz em suas oito faixas momentos de imersão no universo do DJ que vem crescendo cada vez mais nas paradas do Brasil. O produtor, que acaba de atingir o top 11 da parada Top 50 Virais Brasil no Spotify, vem se destacando como um dos maiores nomes LGBTQIAPN+ do funk.
A presença de artistas da comunidade como Christopher, Caio Prince e até mesmo as Irmãs de Pau dentro do nicho tem grande importância para criar um espaço de acolhimento no funk, que muitas vezes valida apenas o comportamento heterossexual em suas letras. No entanto, o DJ atua além desse papel de representatividade e acrescenta no diálogo entre gerações e estilos do funk paulista.
De forma bem arranjada, como na faixa “O BAILE”, ao recriar "trends" atuais como o uso de “Pump It” do Black Eyead Peas ao mesmo tempo que revisita hits antigos do funk paulista como “Baile de Favela” (MC João), o artista remixa faixas que permanecem no imaginário popular da essência do funk paulista em um dialogismo com o que se conhece hoje em dia por 'mandelão'.
Entre essas idas e vindas existe também espaço para coisas que marcaram a geração do artista e que são retratadas dentro de uma lógica de produção parecida com a dos memes da internet, porém sem soar tosco ou desajeitado, e sim, com muita autenticidade que aprofunda os sentidos das produções e letras.
Os próprios títulos das faixas dão margem para alguns desses elementos que podem surgir como uma apresentação de cada música, como na faixa “O FILME”, que abre o álbum com o famoso orquestral da Fox Studios e que logo dá espaço para uma produção nada orgânica que mistura os ótimos vocais de Firehell e Levynn, baixo distorcido e o tradicional tuim.
Outro exemplo bem sucedido está em “O BANDIDO”, que brinca com a trilha sonora do jogo digital ‘Grand Threft Auto’ distorcida em um funk automotivo que fala sobre dominação dos bailes de favela paulistas, parecido com a lógica de conquista de mapa e história do game.
Além dessa intertextualidade multicultural, que é um dos pontos centrais na construção da identidade sonora do álbum, o produtor utiliza, de forma bem estruturada, diga-se de passagem, outros estilos da música eletrônica que costumam andar ao lado do funk, como o house, o trance e até mesmo a música pop.
O artista ainda surpreende quando no final do álbum traduz duas músicas de Anitta para uma proposta mais honesta e bem trabalhada dentro do funk, resultando em um resgate à identidade de funkeira da artista, comprovando que ainda existe potencial para cantoras que se distanciaram da cultura popular do estilo em busca de uma promessa de ascensão artística por meio da música pop ou reggaeton internacional.
No entanto, mesmo com toda essa inventividade e riqueza de referências, resta pouco espaço para que Christopher demonstre de fato sua persona mais autoral, deixando de lado o seu grande potencial criativo que poderia aprofundar esteticamente sua identidade como produtor para além de um ótimo seguidor de tendências e costureiro dessas ideias.
O que temos são boas colagens e um entrelaçado dinâmico que funciona muito bem para as pistas, mas que peca ao se repetir em estruturas muito rígidas entre as faixas (introdução/verso/drop/segundo - verso/segundo - drop/encerramento) e com poucas variações.
Uma exceção à regra está na faixa “O SEXO”, que traz vocais originais de Mc Pogba numa storyline direta envolvendo o DJ e o ouvinte em uma produção mais minimalista, baseada em (novamente) baixos distorcidos, bolhas e tuins de forma muito satisfatória, mas que não me deixa parar de pensar em como seria igualmente boa uma versão mais maximalista da mesma música.
No final das contas é difícil de acreditar que TODO MUNDO ODEIA o Christopher Luz, principalmente por conta da ótima sensação ouvindo este trabalho que se trata, na verdade, de uma miscelânia mais polida de elementos que já amamos ouvir em outros trabalhos de outros nomes do nicho, proporcionando uma experiência universalmente agradável e um dos momentos mais cativantes do funk em seu ano de lançamento.
Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk / Eletrônica, Funk Mandelão, Funk Automotivo