Crítica | Love Is Like


★☆☆☆☆
1/5

A indústria musical passa por uma epidemia preocupante de nostalgia. Seja através de uma tentativa deliberada de “reaquecer seus nachos” ou acenos sutis a seus antecessores, artistas mainstream têm olhado incessantemente para trás em uma tentativa desesperada de se conectar ao público. Enquanto alguns souberam resgatar a boa forma de seus dias de glória, outros se perderam em réplicas dismórficas de um passado que não existe mais.

Por mais que seja difícil de acreditar nesta década de 2020, Maroon 5 foi uma das bandas mais relevantes nos anos 2000 e 2010. A estreia com o álbum Songs About Jane, em 2002, foi impulsionada pelo pop rock competente do grupo, que surfou na onda do gênero quase onipresente da época. Desde então, foi possível visualizar um degradê pavoroso na discografia da banda, em que a cada lançamento os membros se afastavam das cores vívidas em direção a tons foscos.

Cientes do distanciamento, os integrantes anunciaram um retorno às suas origens com o novo projeto Love Is Like, lançado na última sexta-feira (15). Em julho, Adam Levine confirmou a intenção do Maroon 5 de resgatar o início do sucesso. "Foi uma daquelas coisas em que sinto que já tínhamos escrito músicas de todas as formas possíveis, e queríamos voltar ao que deu origem à banda, ao que nos tornou bem-sucedidos em primeiro lugar, que era manter [o processo criativo], mais ou menos, na banda", disse em entrevista ao TODAY show.

O desejo de se ater à autenticidade do grupo ao invés das sonoridades presentes nos charts parece ter sido esquecido em questão de um mês. Com forte inspiração no pop rap, Love Is Like é uma coletânea sofrível de músicas de tiozão-tentando-ser-descolado.

Se antes a voz de Adam atendia a todos os requisitos da música pop, agora seus vocais preguiçosos e indiferentes sugam qualquer sinal de vida no projeto. O vocalista soa como Zayn na maior parte das faixas — se o ex-One Direction fosse um universitário que está há tempo demais no curso e tivesse acabado de sair de uma festa open bar diretamente para o estúdio.

A presença dos convidados do álbum é apagada de forma assustadora pela atmosfera mórbida disfarçada pela fragrância de um perfume Kaiak. Na faixa-título, Adam canta de forma apática sobre um relacionamento tóxico por cima de backing vocals muppetizados e uma bateria anêmica. A tentativa frívola de um R&B carismático foi capaz de esterilizar até mesmo um verso de Lil Wayne, que desta vez parece proferir as palavras “mula, baby” como um pedido de socorro.

“Priceless”, primeiro single do projeto, possui a identidade sonora perfeita para a trilha de um anúncio de um programa de milhas para o cartão de crédito de um banco. A cantora LISA entrega um verso arrastado, carregado de lirismo como as emocionantes linhas: “Quando você me vir vai ficar tipo: ‘Uhum’ / Dá uma virada e vai ficar tipo: ‘Uhum’”. Em seguida, Sexyy Red protagoniza o momento mais vivaz de Love Is Like em “I Like It”, em que cordas esperançosas e kicks destemidos acompanham a entrega energética da rapper.

A influência de funk e boogie em “All Night” é bem intencionada, com um saxofone charmoso e sintetizadores convidativos, mas acaba sendo diluída demais ao longo da faixa para torná-la memorável. O mesmo ocorre com o trap infanto-juvenil de “Yes I Did” e a virada acústica de “California” que encerra o álbum. O projeto falha tanto em se ater à identidade sonora proposta quanto em tangenciar outros gêneros pelo caminho.

Love Is Like foi um erro desde sua concepção — a começar pela capa, uma prima feia do Brand New Eyes, do Paramore. A cafonice e esterilização generalizada das faixas é um sintoma grave do pistachianismo cultural que assolou a produção popular este ano. Apesar de provocar náusea, cólica e calafrios em seus 28 minutos, o lado bom é que o novo álbum do Maroon 5 passa rápido — como uma pedra nos rins.

Selo: Interscope, 222 Records
Formato: LP
Gênero: Pop / R&B contemporâneo, Pop rap
Tobia Ferreira

Serial scrobbler em liberdade condicional e jornalista cultural. Formada em Jornalismo pela USP e repórter do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Funk e R&B e Soul.

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