★★★★★
5/5
A verdade é que eu sou obcecado por esse álbum e não há razão maior do que essa para escrever sobre ele. Sua atmosfera, mesmo com o passar dos anos, ainda é bastante nebulosa para mim, não no sentido de isso pressupor uma maneira ávida de consumi-lo em dias também nebulosos, pois o faço sem maiores medições. Há um tempo eu escrevia listas de discos para “aproveitar o verão”, e desde que ele entrou em uma dessas listas, tem sido o meu disco do verão. Mas também é o meu disco do inverno, da primavera, do outono e de qualquer ocasião. Uma das coisas mais fascinantes, é que embora seja um material acessível, como qualquer coisa de R&B contemporâneo que tem muitos elementos – e que é – de música pop, ainda o enxergo como sendo denso, pois nunca consigo deixar de descobrir algo novo. É uma das coisas mais sinceras – de amor, de identidade – que a música já revelou. Por um tempo foi um disco que eu gostava de brincar de karaokê, cantando suas letras que de alguma forma ajudaram no meu interesse pelo inglês, pelos versos demasiadamente distinguíveis, pelo ritmo que esse amor se escorre por uma produção analógica e uma psicodelia que muitos artistas depois tentaram replicar. Sobretudo, sou obcecado pelo vocal de Frank Ocean, sinto ele vivo como um machucado cuja cicatrização ocorre de forma distinta por conta da minha diabetes. É doce e por isso também me sinto obcecado por ele: sua capa laranja serve como um instrumento de hipnotismo, sem mágica, apenas uma figuração que faz minhas córneas ficarem alaranjadas, como droga. É cocaína, e canto “Crack rock, crack rock” como se já tivesse usado isso alguma vez na minha vida – nunca o fiz. É bobo, também, pois tem sido o meu disco oficial de relacionamentos. Eu nunca dedico nenhuma música a ninguém, jamais faria isso pois Deus me livre de pensar em alguém que passou na minha vida, e que não existe mais nela, com algo daqui que sou obcecado. Ainda assim, mergulho nas narrativas que Frank parece tê-las feito para mim, sobre as pessoas com quem me relaciono. Minha obsessão, neste sentido, se dá mesmo por uma cura, um desapego, uma noção de que assim para ele, houve um tempo em que amar e ficar obcecado por alguém instigou a criação de tudo aqui, mas que não há mais esse alguém, ou essa obsessão. Então ouvi-lo e ficar preso aos seus sons e temas talvez seja parte desse processo cíclico que amo viver. No fundo, sou obcecado pelo quão descolado me sinto ouvindo e fisgando tudo isso na minha mente. Seu impacto ficou no passado – confesso, tenho dificuldade de assimilar o quão revolucionário ele foi em algum momento, porque pra mim é só esse álbum que eu amo e que sou obcecado. Frank Ocean é a minha diva pop favorita.
Selo: Def Jam
Formato: LP
Gênero: Pop / R&B, R&B Contemporâneo