
★★★☆☆
3/5
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NandaTsunami emerge como uma figura emblemática. Aos 24 anos, MC e compositora nascida e criada na capital de São Paulo, chega com letras ousadas e encarna uma postura frontal em relação ao prazer feminino. Sua estética carrega símbolos de força, sensualidade e provocação, e suas letras — diretas, irônicas e intensas — colocam o prazer feminino no centro, sem pedir licença.
Lançado em 21 de outubro de 2024, com produção de Mello Santana, RD da DZ7, YORI e @iknowfelipe, Tsunami Season é o EP de estreia da artista, reunindo sete faixas que combinam funk, trap e hip hop. O título já antecipa a proposta do álbum: uma temporada de transbordamento, de instabilidade, de emoções e sensações que verdadeiramente nos levam à uma experiência de relaxamento e imersão afirmativa:
Eu mereço ser desvendada
Eu quero ser vista
Eu mereço ser destrinchada
Observada por alguém que valoriza
Entende e enxerga todas as chances de testemunhar a grandeza de quem eu sou
Com uma nova maneira de me apreciar.
Uma das camadas mais importantes do álbum está na distinção — ainda que não declarada — entre sexualização e erotismo. A sexualização feminina, especialmente nos meios de comunicação e na cultura de massa, tende a reduzir o corpo da mulher a um objeto passivo, moldado para o desejo alheio. É o corpo feito para o outro, domesticado para ser consumido. Nanda subverte essa lógica: seu erotismo não é um produto, mas sim um gesto de posse de si.
Cada faixa é um rito, cujo corpo não é objeto, mas oráculo; onde o prazer é energia vital. Ao evocar a necessidade de ser vista, sentida, mergulhada, a artista transforma a música em feitiço, um convite a tocar o invisível que habita o íntimo, como uma maré que limpa, inunda e renasce. Mas essa maré também carrega os escombros da insegurança gerada por uma vida de olhares que sexualizam e moldam.
O corpo canta, escolhe, provoca e recua; há tesão, mas há também sentimento, raiva e vulnerabilidade. A carnalidade não está na imagem da mulher “disponível”, mas na mulher que decide, e isso a afasta de uma sexualização que objetifica, aproximando-a de uma sensualidade que liberta.
Tsunami Season é um manifesto sonoro e afetivo. O disco apresenta uma sonoridade densa e envolvente, construída para o baile, mas também para a escuta atenta. Nanda constrói, faixa a faixa, uma narrativa onde o prazer é direito e o corpo é palco de disputas simbólicas e reais. Ao fazer da música periférica um canal para falar de desejo com liberdade e potência, ela não apenas ocupa um espaço, mas o transforma. Em tempos em que a sexualidade feminina ainda é censurada, esvaziada ou explorada de maneira unilateral, o trabalho de Nanda propõe uma virada: falar de desejo sem culpa, cantar o corpo sem filtros, e afirmar que erotismo também é forma de existência. No rastro de sua Tsunami, fica o convite para sentir — e pensar — o impacto.
Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Funk / Trap, Hip Hop