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★★★★☆
4/5
Callinan é um daqueles artistas dos quais não podemos esperar nada, e nem deveríamos. O australiano carrega consigo um arcabouço de ideias ambiciosas e parte da graça é, justamente, a surpresa de vê-las florescer em canções tão imprevisíveis quanto mirabolantes. Seus dois primeiros discos funcionam como expositores de suas aspirações artísticas, assim sendo intencionalmente difusos — inclusive entre si —, mas inevitavelmente rasos em termos estruturais e narrativos. If I Could Sing, por sua vez, é sólido em todos os sentidos.
No seu primeiro álbum de inéditas em quase sete anos, Callinan faz um resgate oitentista à sua maneira — leia-se: propositalmente exagerado. Ao utilizar os clichês da música pop como base para uma extrapolação sonora, ele cria faixas exorbitantes e divertidas em sua essência, dessa vez, aliadas a uma sinceridade que faltava em seus projetos anteriores.
Musicalmente, é evidente que Callinan se mantém fiel às raízes de Bravado (2017), mas os artifícios exóticos de produção já não parecem sufocar o potencial lírico das músicas, sejam elas típicas canções de desamor, como a melodramática “Eternally Hateful”, ou retratos mais íntimos como “Anæmic Adonis”, que lida com a dependência química.
Em seus momentos mais eloquentes, If I Could Sing caminha sobre os passos do new wave e do synthpop clássico, resultando em uma explosão eletrônica de sintetizadores retrô e riffs agitados de guitarra — é o caso de “Crazier Idea”, destaque absoluto da obra. No entanto, Callinan opta por uma finalização morna, com slow-burners que quebram o ritmo e não têm o mesmo charme das outras faixas. Apesar disso, If I Could Sing acerta ao lapidar o pop excêntrico do artista sem deixar a diversão de lado; de fato, ela continua a ser o fio condutor de seus trabalhos, agora, sem ofuscar os demais elementos que constituem um bom disco.
Selo: Worse
Formato: LP
Gênero: Pop / Art Pop, New Wave, Synthpop