Crítica | THE TORTURED POETS DEPARTMENT: THE ANTHOLOGY


★★☆☆☆
2/5

É fácil torcer contra Taylor Swift, afinal ela é a típica artista que as pessoas amam odiar. Ela é famosa a ponto das pessoas saberem detalhes de sua vida amorosa contra suas vontades, ela é amada por meninas de treze anos que supostamente “ainda não sabem nada sobre a vida ou sobre música”, por aquela colega de trabalho que ainda não superou Harry Potter e também por aquele seu amigo cujo gosto você respeita, mas ainda não entendeu bem o porquê de tanto amor e torce para que um dia ele finalmente caia em si.

Sejam de amor ou de ódio, a verdade incontestável é que Taylor Swift desperta sentimentos naqueles que a escutam. Sim, é difícil alguém que se demonstre imparcial acerca de sua música ou persona. Se você precisa de provas, basta abrir o X e se divertir com os incontáveis posts acerca de seu mais novo álbum. Seja dos fãs revoltados com a resposta da crítica, seja daqueles que não gostaram nem um pouco de suas músicas novas e precisam que isso seja ouvido por todos. É claro, precisamos ser ouvidos, ela nos ensina isso em seu novo álbum. Em THE TORTURED POETS DEPARTMENT: THE ANTHOLOGY, a artista adiciona 15 faixas a um trabalho que já soava torturante o suficiente.

Anteriormente, não era difícil acreditar que as histórias de Taylor Swift mereciam nosso tempo. Um exemplo disso é a faixa com duração de dez minutos presente na regravação de seu álbum Red, “All Too Well (10 Minute Version)”, que conseguiu alcançar o primeiro lugar na Billboard Hot 100 não apenas porque se tratava de uma música de Taylor Swift, mas também porque as pessoas genuinamente queriam ouvir o que ela tinha a dizer. Entretanto, as músicas aqui presentes nos fazem pensar que talvez ela esteja se estendendo demais, que o que nos foi apresentado como “poesia”, na verdade se trata de um grande discurso retórico. A principal impressão ao ouvir as novas faixas é que a imagem que a artista carrega de si mesma se engrandeceu de tal forma que qualquer acontecimento de sua vida agora pode e deve ser descrito como um grande marco.

Swift demonstrou a capacidade de conseguir ser sutil em seus álbuns anteriores. Uma música poderia ser dedicada a um ex-relacionamento, mas nunca era apenas sobre isso. Fazia parte do trabalho dos fãs decifrar seus enigmas, vírgulas, trocadilhos. Esse tipo de mistério aqui não carrega a mesma graça. Considerando que grande parte de seus fãs esperava que seu novo disco tratasse da resposta emocional da cantora acerca do término com seu parceiro de longa data, Joe Alwyn, é quase impossível não admitir que existe certo nível de frustração e decepção ao sermos recebidos com o que se trata, abertamente, de um álbum em grande parte inspirado pelo breve romance vivido com o cantor Matty Healy, da banda inglesa The 1975.

Os melhores momentos presentes na edição estendida são aqueles em que a cantora consegue se afastar de seu monólogo interno e se voltar a coisas mais nobres: “Robin”, um dos destaques da “antologia”, apresenta uma Taylor mais familiar, que canta sobre a genuinidade e imaginação presentes na infância, nos remetendo a faixa “seven” de seu oitavo álbum de estúdio, folklore. O mesmo pode ser dito sobre “I Look in People’s Windows”, em que ela explora o sentimento de “e se” e o nó na garganta que uma conexão perdida é capaz de deixar em nossas vidas. A faixa é tão sutil e desproposital que é quase como se ela olhasse para nós através de uma janela. É um dos poucos momentos do disco onde nos sentimos olhados de volta.

As temáticas presentes em quase todo o álbum soam cruas demais, sem pensamento ou elaboração, apenas colocadas de forma a significarem alguma coisa. Em diversos pontos do disco, Swift mostra que ainda sabe como contar uma boa história, justamente por isso é tão frustrante que na maior parte da obra isso não aconteça.

Não restam dúvidas que tanto o álbum original quanto sua edição estendida serão trabalhos de sucesso, afinal de contas é de Taylor Swift de quem estamos falando. Mas a forma que esses trabalhos se apresentam levantam dúvidas quanto à seriedade que a artista tem com seu público. Se antes ela era capaz de estabelecer uma relação de mutualidade com os fãs, aqui ela parece subestimá-los, acreditando que pouco importa o que ela diga, se ela puder chamar de poesia, os fãs vão torná-la poeta. Infelizmente para ela, nem todos acreditariam.

Selo: Republic
Formato: LP
Gênero: Pop / Folk-pop
Mateus Carneiro

Graduando em Letras pela UTFPR. Nutro um interesse pela exploração de diversas formas de expressão artística, incluindo a música, o cinema e outras manifestações culturais. Faço parte das curadorias de folk, eletrônica e experimental no Aquele Tuim.

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