Classificação AT | Vanguarda Paulista


Conheça o movimento mais persistente da música brasileira.

De onde a vanguarda paulista surgiu?

A Vanguarda Paulista foi um movimento cultural, centrado na música experimental, que começou em 1979 e, embora se diga que terminou em 1985, muitos afirmam que o movimento persiste até hoje. O grande núcleo da VP foi a representação imposta pelos críticos musicais, que além de inventarem o nome, abraçaram toda e qualquer manifestação da liga de artistas que compunham esta nova frente, ao contrário do público, que parecia rejeitar as propriedades mais importantes daquilo que viria a ser uma das veias mais importantes da música brasileira.

Como a vanguarda paulista soa?

Encabeçada por nomes como Itamar Assumpção, Premeditando o Breque, Grupo Rumo, Isca de Polícia, Arrigo Barnabé, entre outros, a Vanguarda Paulista tinha como principal característica a fusão da MPB com diferentes vertentes musicais, essencialmente as que vinham do rock e do jazz. Foi considerado um estilo marcado por melodias desorganizadas, letras subversivas, elementos eruditos e temas impregnados de rebeldia juvenil e romance adulto. Houve – e muito – um aceno à poesia.

Apesar do seu auge na década de 80, a Vanguarda Paulista perdeu força e muitos de seus artistas deixaram de abordar seus maiores atributos nas décadas seguintes. No entanto, houve nomes que resistiram, ainda que antigos e enfraquecidos. Ná Ozzetti é um desses exemplos. A ex-vocalista do Grupo Rumo, apareceu em uma série de lançamentos solo, principalmente na década de 2000. Mas, foi em seu décimo disco, Embalar, lançado em 2013, que ela traria — de uma vez por todas — o gatilho para o renascimento do movimento.

Em parceria com Juçara Marçal e Kiko Dinucci, a artista confirmou seus laços com esses artistas que, desde 2008, formavam a banda principal da VP moderna: Metá Metá. No álbum de estreia (Metá Metá, 2011), que, além de Juçara e Kiko, contou com a participação de Thiago França, foi possível sentir a presença do passado voraz e experimental do movimento. Misturado, mais do que nunca, com ritmos afro-brasileiros.

Apesar de inicialmente não corresponder aos tipos exatos do movimento, a partir daquilo que se tinha como constructo, o Metá Metá passou a exercer peso simbólico em referências que o alcançavam. Nesta linha do tempo, é preciso dizer que a Vanguarda Paulista já havia ressuscitado. Porém, seu estabelecimento veio mesmo na segunda metade da década de 2010, com a inserção de novos nomes representativos, como Elza Soares, que fez de A Mulher do Fim do Mundo um importante fragmento das novas abordagens que prescindiram do estilo.

Comentário:

É interessante pensar que o que temos hoje como o suposto braço atual da VP, ainda guarda muitas semelhanças com suas origens nos anos 80. De um lado, há essa mistura de influências da MPB, que vai de Caetano à Gal Costa, e do outro lado essa hibridização de jazz, samba ou qualquer aspecto fulminantemente abrasileirado de rock, pop, etc. Além disso, há um estro lírico de juventude, paixão, revolta e desconstrução, que se somados ao lado independente, resultam em nomes bastante recentes e que revistaram o melhor do movimento, como Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Anna Vis, Ava Rocha, Romulo Fróes, Iara Rennó, Juliana Perdigão, Rodrigo Campos, Maria Beraldo, Thiago França e por aí vai.

Indicações:


Clara Crocodilo
Arrigo Barnabé

Clara Crocodilo dispensa apresentações, e também dispensa tonalidade. O disco de Arrigo Barnabé gerou frio na barriga de muitas crianças. É estranho — atonal —, agressivo e também uma das bases mais importantes para se aprofundar no movimento e suas invenções pós-tropicália.

Formato: LP
Ano: 1980




Sampa Midnight - Isso Não Vai Ficar Assim
Itamar Assumpção

Não haveria como representar o movimento sem mencionar Sampa Midnight - Isso Não Vai Ficar Assim. O álbum não faz apenas referência à cidade responsável por abrigar toda a ideia de “música nova”, mas também é o ambiente propício e independente no qual os artistas deste imenso espaço se movimentavam.

Formato: LP
Ano: 1985




Premeditando o Breque
Premeditando o Breque

Uma das grandes complicações da VP, no âmbito do pressuposto comercial, era a linguagem erudita que tentava ser popular e ao mesmo tempo muito acadêmica. Premeditando o Breque, por exemplo, um grupo formado por estudantes da USP, correspondia exatamente com a figura que o pressuposto da significação, tanto do termo quanto da interação, tinha ao corresponder ao movimento.

Formato: LP
Ano: 1981




MetaL MetaL
Metá Metá

Com arranjos que esbanjam catarse pura, o álbum de estreia da banda Metá Metá estabeleceu algumas peças das quais ao longo da década de 2010 foram responsáveis pela nova frente da vanguarda paulista, representando, como nenhum outro nome, o melhor dessa conjuntura na cena nacional nos últimos anos

Formato: LP
Ano: 2012




A Mulher do Fim do Mundo
Elza Soares

A Mulher do Fim do Mundo representa, além de toda a luta de Elza Soares, a renovação da música brasileira pela ótica da VP. É interessante, pois se falamos em um movimento com forte extensão de linguagem quanto a erudição, esse disco vai de encontro por ser não apenas acessível, mas muito próximo de tudo que gira ao seu redor de produção.

Formato: LP
Ano: 2015
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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