
4/5
Nathan Raile é o produtor por trás de Enraile (e de alguns side-projects como 👁🗨📲 e Atlas Cries). Desde 2017 sob o pseudônimo, ele flutua entre o noise, o vaporwave, UK Bass e, em Delete Yourself, abraça o glitch como ponto central. Logo na abertura do projeto, entramos em um mundo em que o contato com o material sonoro é declarado, de cara, como fragmentado. Um único sample se repete até se tornar uma colagem de batidas extremamente texturizadas. O ouvinte já imerge em “falhas” sonoras e beats cortados.
Em “Are We Okay”, há uma mudança de energia, amenizando um pouco o caos que inicia o álbum (sem deixar de lado a distorção que atravessa todo o projeto) num beat ritmado que contrasta bem com os glitchs utilizados. O vocal entoa uma frase, como uma constatação durante toda a faixa: “I know it’s over”.
O projeto tem seu auge na sequência de “Website (Talk to God)” e “It's Always Been Like This’. A primeira faixa se inicia em um looping de guitarra, numa pausa onírica pelo mundo virtual, para ser interrompida aos poucos por sussurros até ficar “presa”, como uma conexão que falha, antes de anunciar sua chegada aos céus. Quando chegamos nesse momento, a música explode com tudo que o produtor colocou até então na obra. Uma batida rítmica, texturizada e espaçada através de glitches e samples, só para no fim retornarmos ao looping do começo. Na sequência, ocorre quase a antítese desse movimento. Um único sample luta para sobreviver na faixa. Ele parece falhar repetidamente na sua tentativa de respirar, até que precisa tomar um fôlego no meio da música para então continuar. Aqui o silêncio é tão importante quanto o som (o que não é nenhuma invenção do produtor, mas é utilizado de forma excelente).
O vaporwave, gênero que compõe a maioria dos projetos de Nathan, se torna ainda mais evidente na faixa dividida em duas partes, “Identity Excalibur”. A primeira metade é construída em cima de samples que ressoam aos jogos 8-bit, e que aos poucos vão criando uma musicalidade cômica e nostálgica, para depois ser abraçada completamente pelos sintetizadores. É como chegarmos ao final de uma fase, o que fica claro pelos aplausos que nos recebem logo no começo da segunda metade. Na continuação, o que imperam são os vocais, que misturam e conectam os universos da UK Bass com projetos clássicos do pluderphonics, como OPN.
A faixa de encerramento consegue reunir todos os pontos altos do projeto, iniciando num looping como em “Website”, para explodir em sintetizadores estilhaçados, enquanto o grave carrega ao fundo. Tudo para nos deixar em um momento final de introspecção e reflexão quase dolorosa.
O que me impressiona aqui não é exatamente uma criatividade inédita do produtor, mas o quão bem o projeto consegue lidar com extremos. Do silêncio ao maximalismo. De forma fluida e de forma abrupta. Cortando o ouvinte e ao mesmo tempo o carregando por uma jornada. Talvez como uma criança que cresceu em uma lan-house jogando Counter Strike, a nostalgia de uma conexão falha ainda converse comigo.
Selo: Retrac Recordings
Formato: LP
Gênero: Experimental / Glitch, Plunderphonics, Deconstructed