Crítica | ESPANTA GRINGO



★★★★☆
4/5

d.silvestre é um dos nomes mais reconhecidos por passear pelas margens do funk paulista e explorar seus limites às vezes agressivos demais. É uma forma diferente de transformar o produto — ou torná-lo mais diferenciado a partir de novas possibilidades.

ESPANTA GRINGO, disco que vem na sequência de outras tentativas do artista de replicar seu conhecimento de bombear sangue pela pressão de batidas desconcertantes em 2023, é seu maior acerto até agora. Ele é assertivo porque está livre de intenções concretas; quase sem um senso de necessidade — além de romper com seu portfólio.

Aqui, o hardcore encontra o beat bruxaria, já consagrado em discos como PANICO NO SUBMUNDO, de DJ K. Mas, como forma de propor algo seu, d.silvestre contacta algumas de suas marcas de boa fé presentes em trabalhos como Hyperfunk, em parceria com MC DENADAI.

Mas, não é como se quisesse regressar, muito pelo contrário, é uma forma de seguir em frente, principalmente pelo fato de retrucar quem o acusa de se manter entre fórmulas. E ESPANTA GRINGO tem a sua fórmula: resgata uma infinidade de elementos, vocais ou musicais, que passam a fazer parte da amálgama power noise-industrial-hardcore-mandelão, que parece não se repetir por enjôo— repete-se por diversão.

E a diversão, por sua vez, está na repetição intencional, que só muda para ficar mais barulhenta ou mais densa. Veja como o principal destaque de todos, "Set Estragado 1.0 (FEAT. DJ VITTIN MG, DJ Raffide, DJ FERRARI DO TS & DJ MR 011)", com seus espessos 7 minutos de duração, parece rebobinar a estrutura à medida que os envolvidos acrescentam algo.

ESPANTA GRINGO é, afinal, uma nova versão — talvez a mais absoluta — da contribuição de d.silvestre às margens do funk paulista como movimento de vanguarda. Estabelece, portanto, o quão promissora pode ser a entrada do beat bruxaria como outra faceta do gênero naquilo proposto por ele.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk / Funk Paulista, Experimental
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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