Crítica | Sd-2


★★★☆☆
3/5

Acho virtualmente impossível um ser humano passar sua trajetória pela Terra e durante ela não ter tido uma mísera vontade de se agarrar intensamente a alguém. Mesmo que um certo indivíduo hipotético não seja fã de contato físico, é inacreditável, para mim, que essa pessoa ao menos não sinta — e digo sentir com sinais mesmo: pelinhos arrepiados, carinha chorosa, olhar inchado, melindroso, triste e fatal — uma vontade implacável de abraçar um ente-querido (gatos inclusos) ou um ser superior qualquer.

Para todas as causas e efeitos, o remédio perfeito, o antibiótico fatal específico contra a bactéria precisus abracus é, em última instância, Sd-2, de Loukeman. O álbum tem como ponto principal o uso da mixagem em pontos “warm”, ou seja, o mid-low end, que o ouvido humano associa com calor, aconchego e conforto. A construção de todas as faixas, sentidos e intenções a partir desse ponto é cálida e inimitável; não há como replicar nenhuma dessas sensações da maneira que Loukeman fez.

O gênero meticulosamente definido como guia do álbum foi o outsider house, que é ideal para ser o centro de uma gama de estilos e culturas agregadas, desde o 2-step ao IDM. A paixão ébria do disco tem destaque justamente por, além de atingir um ponto tão fraco do ser humano (e ainda bem que o faz), soar como uma unidade mesmo sendo tão heterogêneo.

Outrossim, urge destacar a necessidade de fazer as pessoas sentirem (o que for) com a música eletrônica. Não faz sentido ser altamente técnico, ter uma mixagem perfeita e não focar no que o digital tem de melhor a oferecer: sentimento. Sd-2 seria um álbum medíocre se não fosse por isso, mas fico feliz que tanto Loukeman quanto eu sejamos capazes de entender a beleza por trás do fingido, do eletrônico.

Selo: SD Music Group
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Outsider House
Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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