Revisando Discografias: Tinashe


Ouvimos e avaliamos todos os álbuns de estúdio lançados por Tinashe.

Falar sobre Tinashe muitas vezes pode significar resumir sua carreira ao que aconteceu entre ela e sua antiga gravadora. Durante anos, a artista limitou-se, em parte, às aspirações empresariais que continuaram a moldar o seu som até hoje. Mas longe de ser apenas mais um nome da música pop, a jovem cantora provou o seu talento e força, sendo, mais do que nunca, um nome adepto da procura das suas raízes, do seu estilo e da sua forma única de fazer música. Ela conseguiu e, apesar de alguns erros, continua sendo um dos nomes mais interessantes da nossa geração. Confira, portanto, a nossa análise conjunta da discografia de Tinashe:




Aquarius
2014

★★★½

Apesar de não ser o primeiro lançamento da carreira de Tinashe, Aquarius marcou a estreia da cantora na indústria musical após uma série de mixtapes caseiras, disponibilizadas no SoundCloud, chamarem a atenção dos executivos de uma gravadora de grande porte. Como consequência, o disco conta com alguns dos maiores sucessos da artista, notadamente “2 On”, parceria com Schoolboy Q que, hoje, é lembrada como uma das músicas que definiram o verão norte-americano de 2014.

Sonoramente, Aquarius flutua entre o alternativo e o contemporâneo, com a construção de uma atmosfera fria e espaçada que revela, em seus melhores momentos, a potência de Tinashe como uma das vozes mais significativas e influentes do R&B na última década — a faixa título, “Bet” e “Cold Sweat”, que abrem o disco, são os maiores exemplos disso. Em contraponto, quando o registro mira no resgate de tendências dos anos 2000, com um som sintetizado à la “Yeah!”, clássico de Usher, é inevitável notar que os resultados são um tanto datados.

Mesmo assim, Aquarius é deliberadamente individual e autêntico, e isso é o seu maior acerto. Assinar com a RCA Records não fez com que Tinashe abandonasse sua marca, na verdade, ela se tornou mais intensa, o que colidiu com os interesses comerciais da gravadora. Mas a persistência dela em imprimir seu estilo, fazendo o que quer sem medo de ir contra a maré, é o laço que amarra todos os seus discos, e Aquarius marcou o início disso. — Marcelo Henrique




Nightride
2016

★★★½

É fato que o R&B inspirado de Tinashe sempre rendeu bons resultados. Nightride, porém, pode ser visto como um caso atípico, pois nele a artista ultrapassa suas bases até então estabelecidas em um mesmo espaço. O LP é uma grande salada de sons eletrônicos, ambientes e ritmo lento — fatores que se enquadram na ideia da artista de mostrar evolução em relação ao seu debut.

O álbum, porém, não sabe quando terminar: se prolonga mais do que o necessário, se repete aos montes e não consegue atingir um pico de adrenalina que poderia ter feito muito bem — não que seja uma obrigação, nem deveria, mas sempre há um esforço dos artistas de R&B em povoar uma certa densidade que por vezes inibe sua presença no ato de trazer abordagens minimamente interessantes.

O ápice do disco está na sequência “Ride Of Your Life” e “Party Favors”, uma lembrando os sintetizadores distantes de Vespertine, de Björk, e a outra os ganchos arrastados de LP1, de FKA Twigs. É um exemplo perfeito de como Tinashe poderia ter feito um dos melhores álbuns de sua carreira, talvez da década e, para ser mais justo, do R&B, seguindo seus diferentes modelos. — Matheus José




Joyride
2018

★★★

O terceiro álbum de estúdio de Tinashe, Joyride, chegou às plataformas de streaming acentuando o desentendimento artístico entre ela e sua gravadora, RCA Records. As desavenças ocorreram porque o selo não fez um grande investimento na divulgação do álbum, ocasionando posteriormente o rompimento da parceria profissional, que há muito tempo incomodava a cantora com os rumos da gestão de sua carreira.

A obra é repleta de inconsistências, tentando abarcar uma infinidade de sons que acaba virando uma colcha de retalhos cheia de buracos — vale destacar que este não é um problema causado por Nashe, mas pela pressão constante de sua gerência, que cobrava ela a todo instante sobre um novo sucesso, tirando-lhe a autonomia e o controle sobre sua arte. Além disso, o projeto, apesar de fragmentado em múltiplos aspectos, tem seus bons momentos mesmo quando o talento inato de Tinashe sofre poda.

Num álbum como este, ela ainda consegue se destacar em suas habilidades artísticas, seja no pop mais radiofônico como "Me So Bad”, parceria com Ty Dolla $ign e French Montana, ou no gênero que ela sempre soube interpretar muito bem, o R&B, que nesse repertório se manifesta e encapsulado na simpático “No Contest”. Joyride não foi um fiasco total; teve sucesso moderado e encerrou um ciclo difícil na carreira de Tinashe. Não é um close grande e exuberante, porém, mesmo com suas falhas, Tinashe brilha, não muito, mas brilha. — Joe Luna




Songs for You
2019

★★★½

Tudo o que Tinashe vinha construindo em sua discografia culmina em Songs For You, e é nele que a vemos em seu melhor momento. O quarto álbum de estúdio da artista marca a sua primeira incursão independente após a sua saída da RCA Records no início de 2019, lançado sob seu próprio selo, Tinashe Music Inc, o que lhe deu maior controle sobre o projeto.

Songs for You é um trabalho pessoal que reflete suas experiências e emoções sem as restrições da sua antiga gravadora. Aqui, Tinashe parece mais confiante do que nunca. A sensação é de que este é um projeto que ela há muito tempo desejava lançar, mas que estava impedida por limitações externas. O disco é uma declaração de independência, autoconfiança e superação, misturando a esperança e a melancolia; a artista está focada no bem-estar, celebrando sua autonomia artística.

As músicas discorrem sobre amor, arrependimentos e incertezas, mostrando uma Tinashe introspectiva e, ao mesmo tempo, madura. Este trabalho reflete o seu crescimento, marcando um ponto alto em sua carreira e reafirmando seu controle sobre sua arte e vida. As faixas variam em estilos, do R&B ao pop, passando por elementos do hip-hop, expondo, mais do que nunca, a sua versatilidade. — Brinatti




333
2021


Suceder um disco tão inspirado quanto o Songs For You é uma tarefa difícil. No entanto, Tinashe conseguiu fazer isso de uma maneira muito competente. Ao longo de 16 faixas, a cantora passeia do pop ao R&B em músicas que vão da agitação à introspecção.

333 é, possivelmente, o álbum mais multifacetado de Tinashe. Nele, há muito a dizer e muito a ser mostrado. Diferentes nuances da cantora são expostas ao público sem que a obra perca sua unidade. Portanto, ainda que não seja linear, tudo conversa muito bem entre si.

Essa pluralidade fica evidente quando se trata dos grandes destaques da obra. “I Can See The Future”, “Bouncin” e “The Chase” representam momentos muito distintos do disco, mas definem muito bem o que se pode esperar dele: maduro, diversificado e ambicioso. — Lucas Souza




BB/ANG3L
2023

★★★½

Em seu mais recente disco, Tinashe explora batidas eletrônicas que se misturam a gênero e melodias de R&B e neo-soul, tornando-se puramente magnético, impulsionando o nosso desejo de ouvi-lo repetidas vezes. A princípio, este é o projeto mais curto, apenas 7 faixas, o que corroborou para que fosse a obra mais coesa de sua discografia.

BB/ANG3L, em diversas faixas, não se apoia ao convencional quando se refere a sintetizadores que normalmente produções mais eletrônicas usam. “Talk To Me Nice” soa mais “sombria” em comparação a outras faixas não citadas da obra, com uma melodia mórbida e uma produção que é um pouco repetitiva. A faixa é interessante, mas não é uma das melhores da obra. Já “Gravity” apresenta uma guinada neo-soul repleta de camadas vocais, isso enquanto transpõe sensações angelicais, nos levando diretamente para as pistas de dança.

Em suma, apesar de ser um projeto coeso e que entrega faixas boas com produções instigantes, alguns momentos na obra possuem melodias monótonas o suficiente para não ter um grandes pontos altos. Tinashe aprimorou e segue aprimorando sua arte, que apesar de certas falhas, continua entregando o que mais falta na indústria: qualidade e autenticidade. — Lucas Melo
Aquele Tuim

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