Crítica | Night Reign


★★★★☆
4/5

Entorpecida pela noite, que afirma ser a sua maior fonte de inspiração, Arooj Aftab continua o seu estudo humano da vida cotidiana, da sua trajetória, da sua identidade e, acima de tudo, da sua paixão. É uma obra que pela consternação de seus ambientes instiga o florescimento, o desabrochar. A maturidade não é uma ode à evolução pessoal, não há especificidade narrativa ou descritiva. Aqui as músicas fluem de acordo com o que não se espera delas.

É a pura imposição de uma dezena de fios e fragmentos escritos visando compreender única e exclusivamente ao que é anfêmero, mas não desimportante. É por isso que o jazz catalisado pelo folk soa tão disperso a partir de uma única variação ao longo do álbum, como se houvesse uma combinação escarificadora de sentidos; como se a noite fosse o ambiente exato cujo prazer e intimidade de Arooj Aftab se esvaem através de melodias calmas, frias e meditativas, que vão ao encontro dos sons tradicionais que permeiam as suas raízes paquistanesas.

Ao passo que expõe seus estudos musicais, ela prova a independência destes. Inexiste ao ser e fazer, ou ao compreender; é livre como sua voz, descrita como sendo: “deslocamento, reinvenção, exílio, caos, feminismo e o tecido enlouquecedor de amor, perda e tragédia no mundo”. Pois bem, Night Reign também é tudo isso, pois se situa entre o passado e as lembranças de Aftab sobre sua adolescência no Paquistão, sua mudança para os Estados Unidos e sua percepção do mundo, com seus amores, dores e incertezas, a partir de então — assim como a noite.

Selo: Verve
Formato: LP
Gênero: Jazz / Folk, Ghazal
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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