Crítica | WITH A VENGEANCE


★★★☆☆
3/5

Atravessando os territórios do jungle e do footwork, WITH A VENGEANCE, de SHERELLE, parece compilar uma dúzia de convenções que funcionam em ambos os estilos – é um disco mais interessado em partir dessas bases do que em criar algo significativamente próprio. “XTC” é um bom exemplo de como esse movimento acontece: a faixa se apoia na repetição de um sample vocal, que logo é interrompida e ocupada pelas ruidosas caixas do jungle, enquanto elementos de fundo como sirenes, bipes e bops são acionados.

É uma espécie de confusão planejada, um artifício que torna as técnicas de composição aqui usadas um tanto acadêmicas — principalmente por dialogarem diretamente com as raízes negras da música eletrônica voltada ao underground e ao clube – como se fossem mais um estudo de caso numa defesa de tese do que uma expressão espontânea.

“FREAKY (JUST MY TYPE)”, com George Riley, solidifica essa ideia ao manter os vocais em uma constante de pop urbano que pende para o R&B, mesmo que houvesse espaço para as vozes serem aceleradas, destruídas ou simplesmente transformadas em nada – algo que nomes como DJ Elmoe fariam com base no footwork, e Tim Reaper no jungle. “READY, STEADY, GO!” é o momento em que SHERELLE parece se limitar menos pelas estruturas: é uma faixa genuinamente estranha e silenciosa, que demora a encontrar sua combustão interna e, quando o faz, acelera em todas as direções, atinge quem ouve, e executa com precisão a proposta do título do álbum – a de fúria e cálculo.

WITH A VENGEANCE, ainda assim, permanece em um território seguro, pois se alinha mais às pistas de dança – o que não é algo ruim – do que à sensação de deslocamento e fluidez que um footwork bem feito costuma provocar. É, portanto, um álbum pacífico em seu plano material, como objeto, e que não evoca uma sonoridade de rebelião caótica ou de transcendência desregrada, que é informal e, por vezes, sequer padronizada em termos de criação, hábitos que o jungle tende a alcançar com facilidade.

Selo: Method 808
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Footwork, Jungle
Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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