Crítica | A Complicated Woman


★☆☆☆☆
1/5

Tenho uma dificuldade em me conectar com os trabalhos de Self Esteem, principalmente pela intenção constante de se mostrar grandiosa através de uma sonoridade pretensiosamente imponente que, no fim, soa muito mais óbvia do que ela gostaria de expressar a seus ouvintes. A Complicated Woman é o cúmulo da pretensiosidade sonsa: um registro que quer tanto soar poderoso e artisticamente ambicioso, mas que acaba sendo antiquado e raso de maneira dolorosa.

Uma das principais características de sua instrumentação é o uso de orquestras grandiosas acompanhadas de coros, que soa excessivamente dramático. Não só é de mau gosto, como também absurdamente datado: tudo acaba soando como uma balada pop empoderadora vinda de 2015, mergulhada num estilo de composição popularizado especialmente por Sia em faixas como “Unstoppable”, e em suas colaborações com outros artistas. Só que aqui, é ainda mais nauseante e forçadamente épico. Quando Self Esteem adiciona a isso trechos de palavras faladas, o nível de pretensão vazia se torna ainda mais digno de revirar os olhos.

Tão ruim quanto isso são os momentos em que ela tenta beber da fonte da cultura ballroom, buscando criar faixas dançantes num tom empoderado, inspiradas pelo hip house e pelas batidas fortes do house embaladas por performances de rap intensas, uma estética que marcou a cena club nos anos 1990 e ainda ressoa hoje. Mas a produção house e a performance de Self Esteem são incrivelmente sem energia, resultando em algumas das faixas mais desanimadoras do estilo que já escutei.

Tudo em A Complicated Woman tenta soar disruptivo, autêntico e grandioso. Mas Rebecca Lucy Taylor carece de conteúdo e, por isso, recorre a artifícios batidos, utilizados à exaustão para lembrar o ouvinte de sua ambição de parecer diferente. É como se gritasse incessantemente por atenção sem ter o que dizer, repetindo-se de maneira absurdamente cansativa.

Selo: Polydor
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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