Opinião | A blasfêmia na música pop não é mais tão legal como costumava ser.



Embora tentem provocar algo, nomes como Sabrina Carpenter e Lil Nas X acabam sendo, na verdade, antiquados demais ao zombar da fé alheia.

Recentemente, um padre foi destituído de suas funções administrativas depois de permitir que Sabrina Carpenter filmasse o videoclipe de “Feather” em uma igreja no Brooklyn. O caso ganhou repercussão nas redes sociais principalmente por ser, na visão de muitos, algo muito radical para os dias de hoje.

A questão é que as pessoas esquecem que o catolicismo, como outras religiões, deve ser respeitado. E que os seus símbolos, práticas e doutrinas carregam muito mais do que os estigmas da Igreja de Roma — sendo, para muitos, parte integrante de uma identidade que não deve ser violada. Ainda mais pelo mero capricho da provocação que a música pop sempre procurou fazer.

Entende-se, portanto, que o início e o auge desta provocação até faziam sentido, considerando que a Igreja no século passado ainda mantinha visões e princípios tão limitantes e, de certa forma, errôneos, quanto os que têm hoje. É por isso que momentos como Madonna em “Like A Prayer” não apenas desafiaram — no contexto das blasfêmias — mas abriram um debate importante que teve um bom impacto nos anos seguintes.

Hoje, por conta disso, qualquer tentativa de qualquer artista da música pop de recuperar essa provocação, além de não obter o mesmo efeito, acaba perpetuando um certo desespero de chocar, ou expondo uma espécie de “culpa católica” que já não faz mais sentido, em parte por causa das novas posições da Igreja. Recentemente, o Papa Francisco autorizou os padres a abençoarem os casamentos de casais do mesmo sexo, promovendo uma abordagem nunca antes vista aos fiéis homossexuais.

Por estes e outros motivos, espera-se que exemplos recentes, seja o de Sabrina Carpenter ou de Lil Nas X — que divulgou imagens sendo crucificado para o seu novo single, “J Christ” — sejam cada vez menos constantes, e que a insistência na blasfêmia, que hoje não é muito atraente, faça-os procurar outras formas mais interessantes de criar abordagens artísticas que respeitem a religião dos outros.
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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