Crítica | “Man Of The Year”


Se na excelente “What Was That” Lorde foi acusada de “requentar os nachos”, dada a familiaridade da faixa com outros momentos de sua carreira, esse sentimento se repete, em outros níveis, em “Man Of The Year”. A diferença, desta vez, é que ela genuinamente se perde na complexidade que cria ao redor de si mesma, tentando fazer com que a música produza algum sentido, seja por identificação, seja por suas pressuposições sobre identidade de gênero. Nessa tentativa de soar mais robusta, “Man Of The Year” acaba sendo mais um grito no escuro do que um estandarte de alguma causa genuína. Isso porque as músicas de Lorde sempre foram boas — basta lembrar seus lançamentos antes do desastroso Solar Power — por uma aderência temática clara, que causava identificação através de uma linguagem acessível e, ao mesmo tempo, afiada.

Aqui, toda essa impressão é anulada. Seu estilo lírico permanece, com frases de literalidade cortante (“Who's gon' love me like this? / Oh, who could give me lightness?”), mas quando tenta aprofundar o que antes era simples, ela se perde. E o mais preocupante: forma-se um padrão de lançamentos que coloca em xeque sua habilidade de organizar, criativamente, seus projetos. É a segunda vez em que Lorde lança um single principal excelente, seguido por outro que desmorona o interesse geral, com exceção, é claro, dos fãs, e ainda se distancia do que seu antecessor, em bons sentidos, propunha. É como se esses segundos singles fossem responsáveis por romper com o bom senso que sempre pairou em sua carreira. E isso, ainda que não pareça de imediato, grita crise criativa, e não dá mais pra jogar a culpa em Jack Antonoff.

Selo: Universal
Formato: Single
Gênero: Pop

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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