Crítica | System of a Down Wake Up! Tour

Foto por Clemente Ruiz

★★★★★

System of a Down encerrou a turnê Wake Up! com uma data extra no dia 14 de maio, no Autódromo de Interlagos. Mesmo sendo uma quarta-feira à noite, em um local bem distante para a maioria das pessoas, eles conseguiram lotar o espaço. E não era só metaleiro ali não — tinha de tudo. Essa é a banda que conseguiu unir todas as tribos, assim como foi o Nirvana.

Os shows de abertura ficaram por conta da brasileira Ego Kill Talent, que não teve tanto carinho do público, e da talentosa banda AFI, que conseguiu esquentar o clima antes do System ferver de vez aquela pista.

A banda começou com a música "X", já jogando a energia da plateia lá em cima. A noite estava bem gelada, mas tudo esquentou quando eles pisaram no palco. Era impossível não pular e berrar as músicas. Alguns fãs entraram com sinalizadores (itens proibidos), e os bombeiros tentavam apagar com jatos d’água, mas não tiveram sucesso. E sinceramente? A presença dos sinalizadores deixou tudo ainda mais insano e divertido. Só não façam isso em lugares fechados, viu?

Os mosh pits rolaram o show inteiro, muitos com sinalizadores no meio. Foi uma loucura. A energia era inexplicável. Eu só desejava que aquela noite nunca chegasse ao fim. Visto de fora, parecia um cenário de fim do mundo. E todo mundo estava curtindo como se, de fato, aquele fosse mesmo o último dia de suas vidas.

O público cantava cada música a plenos pulmões, e a banda não fazia pausas. Foi tudo direto, o que impressiona, considerando a complexidade e velocidade das músicas e letras. Serj sustentou o vocal com facilidade, e ainda entregou uns passinhos de dança contagiantes, especialmente em "Forest", que ficou ainda mais especial para mim.

Outro momento marcante foi durante a melancólica "Lonely Day", quando Daron surpreendeu ao emendar “Careless Whisper”, clássico de George Michael, no final. A plateia entrou na brincadeira e cantou junto.

Em alguns momentos, o público puxou o clássico “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu!”, que felizmente hoje em dia já nem faz tanto sentido, né? Eu teria preferido um “Ei, Donald Trump, vai tomar no cu!”, só para alfinetar o baterista trumpista, que nem devia estar numa banda cheia de letras politizadas como essa.

Um dos meus momentos favoritos foi "Cigaro", quando Daron fez uma introdução lenta, brincando com a letra e dizendo que ela é muito estúpida, assim como ele. Talento e senso de humor nota 10.

O encerramento ficou por conta de "Sugar", com direito a um show de fogos de artifício. Foram quase duas horas e meia de show, com 38 músicas, sendo a maior setlist da turnê. Histórico. Mas, depois daquele show espetacular, vieram as trevas com a saída de Interlagos.

Se o show do System of a Down foi nota 10, a organização foi nota 0. O show terminou às 23h30, e todo mundo já estava preocupado com o retorno pra casa. Apesar de deixarem o metrô funcionando até às 2h, levaram mais de uma hora só para evacuar o autódromo. As pessoas estavam coladas umas nas outras, sem conseguir se mover. Onde era a saída? Ninguém sabia dizer. Estava escuro, sem sinalização, sem informação. O local é enorme e com diversos portões, mas aparentemente poucos estavam abertos. Na verdade, só vi uma saída de emergência aberta.

A situação ficou tão absurda que a maioria do público se concentrou nessa saída de emergência e até rasgaram alambrados ao lado e pularam muros. Os fãs ficaram se ajudando para pular o muro e caíram num local com grama úmida, cheios de caminhões estacionados. Claramente não era uma saída oficial, mas foi o que restou. Acho que estávamos brincando de Escape Room, sem aviso prévio. É desumano implorar para sair de lá depois de pagarmos preços abusivos por um ingresso.

Quando finalmente cheguei na porta da estação Autódromo, veio mais dor de cabeça. Precisei enfrentar mais fila que não andava, novamente apertada com milhares de pessoas e um grande empurra-empurra. Liberavam a entrada da estação aos poucos e o horário do embarque estava acabando. Após muito sufoco, entrei no metrô. O trem demorou a sair e foi parando devagar em cada estação. Tortura. Quando finalmente desci, consegui pegar um Uber rápido e cheguei em casa quase às 3h da manhã — e olha que moro no centro de São Paulo.

Muita gente reclamou que teria que trabalhar poucas horas depois. Um evento desse porte precisa de uma organização decente, principalmente no pós-show. O público só queria se divertir e curtir uma das maiores bandas internacionais que passou anos sem vir ao Brasil. A experiência não pode ser boa só até o final do show, o caminho de volta também importa.

Vit

Sou a Vit, apaixonada pelo universo musical desde que me entendo por gente, especialmente por vocais femininos. Editora sênior e repórter no Aquele Tuim, onde faço parte das curadorias de Música Latina/Hispanófona e Pop.

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