3/5
Em CAMINHOS SELVAGENS, CATTO se utiliza do indie rock como estrutura central do álbum, porém, não se trata daquele indie rock sem vida e repetitivo de bandas como The Neighbourhood e semelhantes, mas sim de um som que demonstra uma riqueza de referências bem inseridas e dosadas. As músicas assumem um ar dramático que não teme soar intenso demais, potencializado pelas orquestrações assinadas por Fabio Pinczwski e Jojo Inácio. Essa característica eleva a carga emocional ao extremo, sem abandonar as letras poéticas de CATTO, nas quais a artista se expõe sem pudor nenhum, e talvez este seja o grande charme do álbum.
Mesmo que faixas como “PARA YURI TODOS OS MEUS BEIJOS” e “SOLIDÃO É UMA FESTA” se assemelhem a construções recorrentes do indie rock dos anos 2010, ainda prevalece o apreço por "ser CATTO". Sob essa ótica, podemos perceber essas faixas mais como reconstruções de clichês do que como simples repetições.
Suas referências são bem distribuídas. Enquanto é perceptível uma assimilação com Pitty na maneira como a voz se expressa, podemos ver Gal Costa e Ney Matogrosso em faixas como “LEITE DERRAMADO”, onde a dramaticidade se esconde em uma balada de romantismo desolado. Por outro lado, as referências acabam caindo em similaridades com sons de outras artistas que não foram tão felizes em suas experimentações. “EU NÃO APRENDI A PERDOAR”, por exemplo, soa como um dos experimentalismos que não deram certo na discografia de Duda Beat.
Por fim, CAMINHOS SELVAGENS funciona como um poema escrito a lágrimas por CATTO. Temos aqui composições cruas e nuas sobre suas feridas e cicatrizes, que criam uma atmosfera de dor e compaixão. No entanto, em meio a essa tentativa de imersão, existem deslizes pontuais que nos tiram dessa sinestesia.
Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira