
★★★☆☆
3/5
Entre a margem e o agora, Renegado se reinventa em MargeNow, álbum que marca não só uma nova fase sonora, mas uma espécie de renascimento artístico. São 11 faixas inéditas, mais uma introdução que, juntas, formam um painel vibrante da música urbana brasileira contemporânea.
“Marge” vem da margem, das linhas periféricas que desenham o Brasil. “Now” é o agora, o que não pode esperar. E é nessa interseção entre a exclusão e a potência criativa que Renegado se firma. Depois de anos transitando por diferentes ritmos e estéticas — do rap ao samba, do reggae ao soul — o artista mineiro assume aqui sua versão mais autêntica, livre de amarras comerciais, dono da própria narrativa e fiel à pluralidade de suas raízes.
A intro abre caminho com leveza e ecos do Clube da Esquina, preparando para a força de “NADA NOVO SOB O SOL”, primeiro single do projeto. A faixa é um manifesto embalado por afrobeats e amapiano, onde Renegado relata verdades sobre racismo estrutural, violência e apagamento histórico: “O playboy ainda tá discutindo cota, enquanto o preto só quer viver.”
A variedade rítmica do disco impressiona. Em “GIRA”, o trapfunk encontra o pagodão baiano, enquanto “Lombradim” mergulha na mistura de funks brasileiros com trap. Já “Beijo Brisa”, parceria com Leticia Filizzola, oferece uma canção romântica, solar, de melodia leve e envolvente — uma grande aposta no streaming dentro de um álbum que, em geral, não faz concessões.
Mas MargeNow também é densidade. Faixas como “US MANO DA ESQUINA”, “APENAS BUSINESS” e “TINHA QUE SER PRETO!” reafirmam a vocação de Renegado para o comentário social afiado, com beats pesados e versos falados, que dialogam com a quebrada e com a vivência preta.
A religiosidade de matriz africana atravessa o álbum como um fio invisível. Está nas percussões, nas harmonias, nas palavras que evocam ancestralidade e conexão espiritual — não como ornamento, mas como estrutura. Algo orgânico, cotidiano e vivo.
O encerramento vem com a faixa-título “MARGENOW”, que parte de uma base acústica e encontra o peso das palavras num jogo de leveza e densidade difícil de traduzir. É a poesia da introspecção elevada ao gesto final.
Renegado, além de rapper, é um arquiteto de pontes — entre estilos, épocas, vivências e linguagens. Um artista que sintetiza sua trajetória e, ao mesmo tempo, amplia o vocabulário da música urbana brasileira.
Selo: Suave Records
Formato: LP
Gênero: Hip Hop, Rap / Trapfunk, Afrobeats