Crítica | Revolta Dos Caipiras


★★★★☆
4/5

Não é um disco do MC FREITAS ZS se não tiver referências bobas à cultura pop. E talvez essa seja a maior diferença de Revolta Dos Caipiras para outros trabalhos do artista: suas referências. Como definir, no funk, o momento em que um MC ou DJ atinge uma certa maturidade artística? Pois, ao se afirmar isso, parte-se do pressuposto de que há quem trabalhe sem maturidade, e essa não é a melhor forma de escrever sobre um disco de funk, suas particularidades e seu contexto criativo.

O que eu quero dizer é que FREITAS ZS, aqui, parece ter encontrado o equilíbrio perfeito entre ser um MC com uma das identidades mais marcantes – e divertidas – do funk, e um artista pronto para lançar um material extremamente interessante, que culmina tanto suas marcas quanto avança nelas, fazendo isso a partir de parcerias com alguns dos nomes mais importantes da cena atual.

Sobretudo, este é um disco que tem noções criativas próprias que berram unicidade. Na abertura, “LACOSTEIROS PSICODÉLICOS” – e, consequentemente, a melhor faixa de todas –, as escolhas líricas, como os versos de FREITAS repetindo “Joga a xerequinha forte pros menor que usa Lacoste”, surgem dentro de uma estrutura que HALC DJ cria como se estivesse, de fato, turbinando uma banda marcial inteira, com ruídos de caixas e batidas secas que subvertem a pressão colocada sobre os recentes lançamentos de funk que flertam com aspectos formais da música eletrônica. No fim, a psicodelia não fica presa ao título nem às referências líricas: é uma faixa que parece inaugurar novos sentidos para essa psicodelia.

E isso só funciona porque FREITAS ZS sente que deveria ir além de tudo o que já fez, atingindo em cheio a maturidade que se pode notar ao longo do disco, mesmo quando as referências à cultura pop ainda estão presentes, como em “MÃE FREITAS ZS TÁ FAZENDO A ABERTURA DA SÉRIE”, que brinca com momentos do desenho animado Phineas e Ferb, ou o mashup inesperado com “They Don't Care About Us”, de Michael Jackson, em “... ELES NÃO LIGAM PRA GENTE”, com Letts, que cria quase um remix misturando tuim com EDM. A partir daí, abre-se outra ala das explorações de FREITAS ZS com base na eletrônica, que se expandem para “NÃO É UMA DISS” e uma condensação insana de house–automotivo–bruxaria–etc. É uma das provas absolutas de que, com FREITAS ZS, o que começa bem pode se tornar ainda mais ousado e inventivo.

Selo: Groove Records
Formato: LP
Gênero: Funk / Beat Bruxaria

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

Postagem Anterior Próxima Postagem