Crítica | Os 10 Portões do Submundo


★★☆☆☆
2/5

Antes de nos aprofundarmos em detalhes sobre Os 10 Portões do Submundo, vamos dar uma breve pincelada em quem é DJ Léo da 17. Ele começou sua carreira em 2019 e, um ano depois, já estava presente na playlist de qualquer baile, boate e festa com a faixa "Oh Juliana", sua parceria com Niack e Two Maloka. Uma de suas assinaturas foi o trabalho em cima do funk mandelão, uma marca que permanece até hoje.

É extremamente comum que, quando gêneros musicais ganham novos contornos e percepções, os artistas se movimentem em prol da novidade, lançando trabalhos de forma excessiva em cima dessa novidade. O funk não foge a essa regra.

A consequência disso, na maioria das vezes, é tornar essas tendências casuais ou diluí-las de maneira tão intensa que a subversão se torna genérica. E Os 10 Portões do Submundo sofre desse mal. O álbum trabalha para além das sonoridades do mandelão, adicionando o beat bruxaria e a já conhecida proximidade com a música eletrônica, operando em estruturas familiares: o processo de repetições para construir uma atmosfera e, depois de alguns minutos, uma ruptura com elementos cacofônicos. E pronto, temos uma faixa de funk. A estrutura parece simples, não é? Para DJs que não têm o que acrescentar, sim, é bem simples. Mas para aqueles que entendem que isso é só um fragmento minúsculo do funk e apresentam suas próprias visões sobre a faixa, esse processo não é nada fácil.

Levando tudo isso em consideração, Os 10 Portões do Submundo, parece uma playlist com os lançamentos de funk dos últimos meses. Enquanto pensava no que falar sobre este álbum, um questionamento veio à minha cabeça: “Então, todo lançamento precisa ser uma subversão da música?”. Não necessariamente. A repetição de estruturas não é um crime ou algo que mereça condenação, mas levar isso ao pé da letra, sem sequer trazer uma assinatura para o trabalho, aí o negócio complica. Por qual motivo eu apertaria o play no seu álbum se há vários outros iguais?

Durante as 10 faixas, há lampejos de possíveis assinaturas do DJ. "000 ECOS DO ALÉM", a faixa que abre o trabalho, traz esse vislumbre: as sonoridades trabalham em planos à parte, quase nunca se encontrando, e suas repetições não servem simplesmente para criar uma atmosfera; elas se expandem, criam formas e depois se juntam em um quase tuim.

Há também outras faixas que merecem atenção, como “222 O BARULHO QUE FAZ O MEDO”, que traz o melhor do funk: a euforia, o uso de sintetizadores barulhentos e quebradiços, que são um charme, além da repetição cantada (uso de pequenos trechos de vozes), que funciona como contraponto à faixa. Já em “333 ENTIDADE DAS TREVAS”, o artista se debruça sobre a criação de sons que fazem você questionar se seus tímpanos ainda estarão funcionando depois de ouvir a faixa – no melhor dos sentidos. Depois dessas faixas, no entanto, o que se tem é apenas a repetição do convencional.

Os 10 Portões do Submundo serve como um sintoma do dilema que o funk vive hoje: a linha tênue entre a consolidação de uma nova estética e a sua saturação. O álbum não peca por falta de qualidade técnica, mas por sua hesitação em arriscar.

Selo: SUB 17 MUSIC
Formato: LP
Gênero: Funk / Mandelão, Beat Bruxaria

Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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