Crítica | SCORPIO


★☆☆☆☆
1/5

Em SCORPIO, Madison McFerrin volta às suas raízes minimalistas. Mas até que ponto a aposta no "soul-capella" se sustenta? Entre refrões que grudam na cabeça e repetições que beiram o vazio, fica a questão: a busca por uma sonoridade essencial se perdeu no caminho e entregou apenas mais do mesmo que ouvimos há décadas? A resposta pode não ser tão criativa quanto a artista imagina.

A artista nova-iorquina, em seu segundo álbum, traz mais uma incursão do que ela chama de "soul-capella", tendo como ponto central a sua voz e uma sonoridade que atua mais como meros detalhes do que como parte real do conjunto. A questão é que parece haver uma carência de complexidade nessa sua forma de trabalhar o soul.

Desde sua estreia em 2016, Madison sempre apostou nessa estética minimalista. De lá para frente, ela foi se aprofundando cada vez mais nessa percepção, o que não chegava a causar um sentimento de "estou ouvindo a mesma coisa", por ela trabalhar com EPs e singles. Em seu primeiro álbum de estreia, I Hope You Can Forgive Me (2023), ela abandonou essa estética do minimalismo e trouxe uma complexidade maior de sonoridades, com a presença de folk e americana, e até uma brincadeira com sons eletrônicos. Porém, em SCORPIO, parece que houve uma "volta às raízes".

O álbum segue bem a cartilha do R&B e traz uma segunda sonoridade bem comum de ser trabalhada com o gênero, o neo-soul, que se dissolve de maneira competente. Elementos pequenos são introduzidos ao longo do trabalho de forma tão sutil que passam despercebidos, e quando nos damos conta, já se tornaram um dos pilares do álbum. Sua composição não traz nada de novo ou que deva ser mencionado; as doze faixas giram em torno de um aspecto sensual, frustrado e familiar do amor. Há o uso de uma repetição bem forte em alguns beats, o que não chega a ser desconfortável, já que a maioria das músicas não passa de 3 minutos. Assim, a repetição não se torna um problema, mas para alguns ouvintes, pode soar desinteressante.

Um dos maiores problemas é a repetição lírica. A intenção parece ser a mesma do pop: criar refrões "chicletes", que fiquem na sua cabeça por bastante tempo. Mas em SCORPIO, o uso chega a desgastar os ouvidos. A repetição não se limita aos refrões; em músicas de três minutos, um minuto e quarenta segundos são só de repetições líricas. Poderia ser por uma razão mais sonora, para que as letras funcionassem como uma das facetas do som, e não como uma letra propriamente dita. Contudo, é bem perceptível que ela quer passar uma certa profundidade com as letras, mas, sendo bem sincero, não vejo nada de muito profundo em repetir "Because I guess, I don’t". Não há uma mensagem escondida ou muito menos uma complexidade ali.

Como um todo, poderia até ser um álbum inofensivo, mas a pretensão da artista de achar que SCORPIO é uma das facetas da criatividade engana, e muito. No final, o que encontramos é um trabalho de R&B que já vem sendo replicado há três décadas.

Selo: MadMcFerrin Music
Formato: LP
Gênero: R&B / Soul

Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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