Crítica | Set Afrofunk Agora Nossa Arma É Outra


★★★★☆
4/5

No Set Afrofunk Agora Nossa Arma É Outra, o DJ Renan Valle responde como uma das cabeças mais criativas da nova cena musical carioca. Vindo do Complexo da Maré, ele funde as raízes do funk 150 BPM com a ancestralidade do afrohouse e constrói um manifesto sonoro que faz do corpo um canal de libertação ao mesmo tempo em que rompe com os estigmas negativos que ainda cercam o funk.

Inspirado pelo movimento iniciado por Rennan da Penha que há anos trabalha o eletrônico em suas múltiplas vertentes e ressignifica os bailes como espaços de estética e resistência, Renan desconstrói o que se entende por pista de dança no Rio de Janeiro. O resultado é um set de arquitetura não linear, que abandona a previsibilidade para criar atmosferas onde silêncio e explosão coexistem muito além do batidão habitual.

É fácil pensar em putaria quando se fala de 150 BPM. E é mesmo. Mas aqui, a putaria é política. Há momentos de pura euforia, com batidas potentes, mas também há pausas cirúrgicas que trazem impacto.

A estética afrofuturista aparece não apenas nos samples ou nos timbres de música eletrônica, mas no conceito em imaginar um futuro em que a cultura preta é central e soberana. O título entrega o recado: “a arma agora é a música” trazendo um escopo de resistência, uma ideia que reverbera em um movimento coletivo que surge e permanece.

E se há algo que esse set entende bem, é o corpo. Nada aqui é feito pra se ouvir parado. A música provoca totalmente o ouvinte e em menos de uma hora, Renan entrega uma síntese potente da musicalidade periférica, apontando caminhos para a expansão decisiva desses gêneros nas pistas e no imaginário cultural.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk / Afrohouse

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

Postagem Anterior Próxima Postagem