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Nem preciso dizer que cada som, cada microssegundo de música aqui, cada instrumento tocado, transborda um vazio de propósito. Não se pode esperar que a música crie relações com outros estilos e técnicas sem que haja uma intenção de reimaginação, ou o propósito claro de desenvolver, a partir dessas estéticas difusas, algo que minimamente soe como um novo rumo para cada elemento, uma estratégia de se pensar essas mesclas – o que sequer acontece aqui. Essa mistura de folk, hip hop e pop barroco com acenos ao indie pop acústico até assume contornos próprios, mas isso não basta para que a própria narrativa de idealização do som atinja um ponto central coerente. Veja bem: muitos fãs de Quadeca passaram a listar a bossa nova – sim, isso mesmo que você leu – como um dos gêneros do disco. Isso porque há um aceno, um uso torpe e descaracterizante (no pior sentido) de alguma música do Chico Buarque aqui.
Esse tipo de distorção se tornou comum quando se trata de artistas que subvertem a ordem de criação pensando exclusivamente em si mesmos, buscando provocar reações que sejam fora de órbita e que despertem nos outros algum tipo de hormônio que faça a curiosidade ser o resultado certeiro desse tiroteio pra todo lado disfarçado de criatividade voraz. É como se esses artistas quisessem se provar pelo som, pois, ao ouvir longos minutos de sopros, cordas e instrumentais confusos, muitos automaticamente associam isso a algum valor criativo diferenciado. Usam termos como “experimental” para justificar esses usos e escolhas que, no fundo, são apenas calculadas para parecerem justamente o que não são. E, a esta altura do campeonato, talvez valha mais a pena questionar esse modo de criação, ou mesmo julgar quem ouve e acha o máximo. Porque, no fim das contas, bagagem não é algo que dependa do ouvinte, e sim do artista.
Selo: X8 Music
Formato: LP
Gênero: Folk / Folktronica, Art Pop