Crítica | Vanisher, Horizon Scraper


★☆☆☆☆
1/5

Não tem nada pior do que um artista que subverte a ordem de criação – no sentido de não criar livremente, mas de fazê-lo do fim para o começo, do lançamento para a organização do som – pensando sobretudo em como chocar o público com escolhas milimetricamente feitas para soarem como grandes conchavos artísticos, que avançam por uma anormalidade que, no fim, nada mais é do que o mesmo lugar-comum de sempre. Quadeca é esse artista, e seu novo álbum, Vanisher, Horizon Scraper, faz isso com devido afinco. Opera como se tivesse sido criado unicamente para gerar reações, entregar aos seus admiradores – e a si mesmo, claro, não podemos excluí-lo desse processo – o peso de ser um artista competente, que se adequa aos maneirismos como ninguém, pois sempre foi visto como um suposto alguém aquém das formalidades. Será mesmo?

Nem preciso dizer que cada som, cada microssegundo de música aqui, cada instrumento tocado, transborda um vazio de propósito. Não se pode esperar que a música crie relações com outros estilos e técnicas sem que haja uma intenção de reimaginação, ou o propósito claro de desenvolver, a partir dessas estéticas difusas, algo que minimamente soe como um novo rumo para cada elemento, uma estratégia de se pensar essas mesclas – o que sequer acontece aqui. Essa mistura de folk, hip hop e pop barroco com acenos ao indie pop acústico até assume contornos próprios, mas isso não basta para que a própria narrativa de idealização do som atinja um ponto central coerente. Veja bem: muitos fãs de Quadeca passaram a listar a bossa nova – sim, isso mesmo que você leu – como um dos gêneros do disco. Isso porque há um aceno, um uso torpe e descaracterizante (no pior sentido) de alguma música do Chico Buarque aqui.

Esse tipo de distorção se tornou comum quando se trata de artistas que subvertem a ordem de criação pensando exclusivamente em si mesmos, buscando provocar reações que sejam fora de órbita e que despertem nos outros algum tipo de hormônio que faça a curiosidade ser o resultado certeiro desse tiroteio pra todo lado disfarçado de criatividade voraz. É como se esses artistas quisessem se provar pelo som, pois, ao ouvir longos minutos de sopros, cordas e instrumentais confusos, muitos automaticamente associam isso a algum valor criativo diferenciado. Usam termos como “experimental” para justificar esses usos e escolhas que, no fundo, são apenas calculadas para parecerem justamente o que não são. E, a esta altura do campeonato, talvez valha mais a pena questionar esse modo de criação, ou mesmo julgar quem ouve e acha o máximo. Porque, no fim das contas, bagagem não é algo que dependa do ouvinte, e sim do artista.

Selo: X8 Music
Formato: LP
Gênero: Folk / Folktronica, Art Pop
Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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