Crítica | Blest


★★★☆☆
3/5

Depois de um hiato entre faixas soltas, EPs e o sucesso relâmpago de “No Going Back" em 2018, Yuno finalmente entrega seu primeiro álbum de estúdio. Intitulado Blest, o projeto não chega com a expressividade que o nome sugere, mas se apresenta com uma obra agradável, introspectiva e esteticamente bem resolvida.

Ao longo de dez faixas, o artista navega entre o R&B alternativo e o indie pop, apostando em melodias familiares e refrões que têm tudo para grudar – ainda que talvez não encontrem o eco necessário fora do nicho. Há um cuidado evidente na produção. Cada música foi escrita e tocada pelo próprio Yuno, o que garante uma coesão estética sutil e uma assinatura íntima ao material.

A faixa-título, “Blest”, abre o álbum com uma vibe popzinha leve. “Unfair” segue no mesmo tom – um pop redondo e doce – e ambas se destacam pela similaridade marcante entre si. “We Belong" traz uma psicodelia suave que remete à sonoridade de Tame Impala, enquanto “True” visita com segurança o hip hop e R&B, reforçando o caráter camaleônico da obra.

Mesmo com essa pluralidade de gêneros, o disco não soa disperso. Ele mantém uma linearidade no melhor sentido, alternando faixas de energia média/alta com momentos mais calmos, sem parecer confuso. No entanto, é justamente essa moderação que talvez o impeça de se destacar num cenário mais amplo. A sensação é de que Blest quer ser muitas coisas e por isso, opta por não ser ousado demais em nenhuma.

Conceitualmente, o álbum gira em torno da aceitação e da gratidão, como propõe o próprio artista, o que dá um toque quase espiritual ao seu andamento. Mas em um mercado onde o indie se expande como uma bolha prestes a estourar, talvez tenha faltado a Yuno um pouco mais de ambição pop, não apenas nos refrões, mas também na forma de se posicionar artisticamente. Algo como mirar mais certeiramente em hits como “No Going Back” para consolidar de vez sua presença na cena.

Embora Blest não seja o marco que poderia firmar sua estreia em álbum, ele mostra que Yuno tem o arsenal certo e talvez só precise aprender a mirar com mais precisão no mainstream.

Selo: Sub Pop Records
Formato: LP
Gênero: R&B / Indie Pop

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

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