Crítica | precum


★★★★☆
4/5

Ayesha Erotica pega muita referência em seu novo disco, precum, do electroclash e do electro house, remetendo fortemente ao cenário da música pop no final dos anos 2000, quando o electropop estava em alta e eletrônicos sujos, arrebatadores e distorcidos se tornaram muito presentes na indústria fonográfica, devido à influência desses estilos EDM que surgiam no momento. Uma cena específica nesse período, o bloghouse, chamou atenção na música eletrônica na época por uma visão mais descontraída desses gêneros de eletrônica que estavam no auge. Em comparação ao que foi entregue na música pop mainstream da época de maneira mais acessível, o bloghouse era mais irreverente e despreocupado. precum se aproxima muito do que os artistas desse movimento representaram e, por isso, é um álbum tão efetivo em replicar o que foi de melhor para o electroclash e o electro-house em seu pico, executando-o muito bem dentro da personalidade artística de Ayesha: imponente, atrevida e sem preocupações em manifestar sua sexualidade.

A artista trabalha de forma criativa com o aspecto abrasivo desses gêneros, a primeira faixa, “WHORE IDOL”, apresenta sintetizadores poderosos, com uma energia arrebatadora, exercendo a visão ousada do electroclash com intensidade. Curiosamente, o disco finaliza também com um destaque ainda maior no alcance máximo das características sujas do electroclash, com “MENLO PARK” indo fortemente além das convenções do estilo musical, incorporando elementos de noise dentro de sua produção que a torna ainda mais agressiva.

No geral, mesmo os momentos menos ímpares na exploração desses estilos ainda têm um carisma forte que demonstra como Ayesha domina os aspectos das cenas em que ela se inspira. É curioso olhar, entretanto, como o disco, embora fortemente mergulhado em referências que remetem o ouvinte a um cenário retrospectivo dos anos 2000 no electropop, executa-o em correlação à movimentos que surgiram mais recentemente, especialmente fazendo uma ligação do hyperpop com o electroclash, em uma mescla bastante positiva por manifestar o maximalismo e a irreverência que ambos os ritmos carregam em sua essência. “Gang” e “Runaway” são músicas energéticas e animadoras de hyperpop que funcionam muito bem na lista de faixas situadas junto ao electroclash e electro-house que aqui apresentam essa energia em certo nível.

Recentemente, foi possível notar uma quantidade curiosa de nomes tomando como referência esses estilos, o exemplo que mais recebeu atenção foi o BRAT de Charli xcx, mas diversos outros artistas situados em um ambiente mais alternativo do pop eletrônico também andaram produzindo trabalhos influenciados por esses ritmos — Frost Children, 2hollis, singles recentes de Slayyyter e Underscores e por aí vai. Ayesha Erotica, sob esse prisma, talvez não seja necessariamente o melhor exemplo na execução desses gêneros, mas tem uma grande excelência em representar a cena electroclash dos anos 2000 e 2010, incorporando-o ao cenário atual da música eletrônica, mas sem que isso torne essas influências diluídas, em contrapartida, potencializam algumas de suas características essenciais.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Pop / Eletrônica

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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