Crítica | BlownBoy RU


★★★☆☆
3/5

Com BlownBoy Ru, Ruger se reapresenta, mas de um jeito completamente novo. O álbum abre com "Reintroduction", uma faixa que, como o nome sugere, anuncia uma nova fase. O flerte com o hip hop dura poucos segundos e logo a base afro se impõe, trazendo o sotaque jamaicano e elementos do norte da Nigéria.

Lançado em um período de pouco movimento no calendário musical africano (março), o disco quebrou barreiras e se destacou, encontrando um espaço de popularidade que muitos trabalhos do gênero não conseguiram. E, claro, as colaborações com Kranium e Tiwa Savage funcionam como pontos estratégicos para abrir ainda mais portas.

O que se ouve em BlownBoy Ru é a expansão da identidade de Ruger. Embora seja conhecido como um dos principais nomes do afro-dancehall — a fusão do swing caribenho do dancehall com a cadência do afrobeats, temperada com pop e R&B —, ele explora novos gêneros aqui. Tem amapiano, trap, R&B e até o funk brasileiro em "Toma Toma", com Tiwa Savage. A faixa, descaradamente voltada ao funk, parece feita sob medida para atravessar fronteiras, algo que também vemos Ruger tentando viabilizar.

“Muah (Soulmates)” é delicada e retrata o desejo de ser alma gêmea mesmo quando existe outra pessoa no caminho. Em contraste, “Give Away”, parceria com Zlatan, mergulha no trap, com beats densos e oratória marcante, uma das experiências mais ousadas do disco.

Na sequência, “Jay Jay” assume o posto de hit. Totalmente ancorada no afrobeats dançante, a faixa viralizou no TikTok, com challenges que simulavam dribles, em homenagem ao craque nigeriano Jay-Jay Okocha. O impacto foi imediato, mais de 200 mil streams no Spotify já no primeiro dia.

Entre todas, “DuDu” é a faixa com maior destaque. Colaboração com Kranium, o clima envolvente lembra alguns toques sonoros da faixa “Girlfriend”, do disco The Second Wave, talvez porque ambas compartilham esse lado sedutor. Não por acaso, “DuDu” foi escolhida como carro-chefe do lançamento. Já “Rub Minds” é uma faixa leve, dançante, daquelas que convidam a repetir no fone sem perceber.

O álbum, no entanto, não mantém essa intensidade até o fim. Do meio para frente, a energia desacelera e as faixas soam mais tranquilas, menos exploradas, o que resulta numa queda tanto nos números de streaming quanto na própria vontade de continuar a escuta. É nesse ponto que aparecem “Runaway”, com Haile, voltada ao R&B e marcada pelo encaixe dos vocais, e “Toro”, apresentada ao COLORS, que viralizou justamente por expor um Ruger vulnerável, disposto a reconhecer falhas. São belas canções, mas também evidenciam uma repetição de temáticas e narrativas que deixam o conjunto um pouco raso.

BlownBoy Ru é a prova de que Ruger está disposto a apostar em si mesmo. Produzido por Kukbeatz, o álbum mostra um artista vulnerável mas que não teme experimentar e que sabe como transformar sua identidade afro-dancehall em passaporte global. Talvez não seja o disco definitivo de sua carreira, mas é o registro de um Ruger mais livre do que nunca.

Selo: Blownboy Entertainment
Formato: LP
Gênero: Música do Continente Africano / Dancehall, Afrobeats

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

Postagem Anterior Próxima Postagem