
★★☆☆☆
2/5
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Ao longo de dez faixas, a paulistana percorre o tortuoso caminho que é navegar pela vida adulta: frustração, desilusão e o agridoce presente na autonomia de poder ser quem se deseja ser. Um dos grandes feitos do disco é a habilidade de proporcionar ao ouvinte um retrato real da saudade – seja da infância ou de alguém que lhe deixou. Ao narrar experiências amorosas e cotidianas de maneira quase metódica e simples, Ana recai em um lugar comum e prova que a realidade é, muitas vezes, monótona.
Utilizando sabiamente a lírica como expoente de sua poesia, Spalter aborda as delícias e amarguras em viver algo que tanto desejava. Na faixa “Criança Poeta”, ela realiza uma ode à infância que um dia teve, com melodia e voz tão doces quanto as palavras que são proferidas sobre esse período. Através de acordes sutis, a atenção de quem lhe escuta é voltada para a ânsia aparente da cantora de reencontrar um passado que não volta mais, e que, um dia, era apenas um futuro que tanto almejava.
Ah, quando eu era criança eu era tão mais velha.
Ao longo das músicas, a artista cria um lugar de conforto baseado na identificação, mesmo que o corpo do trabalho não permita uma profundidade tão grandiosa. Sob a premissa da humanidade e suas nuances, Ana canta sobre o fôlego afobado que é se sentir inquieta na própria pele. A canção “Bobagem” consegue traduzir o sentimento de deleite implícito ao fazer algo que, no fundo, sente que não deve. A melodia desempenha um papel fundamental ao dar sentido à lírica – os elementos do funk e do samba presentes na faixa trazem a felicidade quase carnavalesca em “dar o troco”.
É um êxito inegável o casamento entre suas emoções e os instrumentos selecionados para emoldurá-las. Ao evocar a raiva, tristeza e ironia na lírica que aborda sobre uma desilusão amorosa, a cantora consagra “Privilégio Meu” como a melhor canção do disco. Um turbilhão de emoções que escorre pelo alto falante são contornados pela sensualidade instrumental que se destoa, apresentando a parte final do álbum de maneira singela, porém criativa.
Ainda que haja beleza na simplicidade de suas letras e o disco seja promissor em ser definido como algo novo, Coisas Vêm e Vão transparece enquanto um álbum passível de se perder na memória. Ao valorizar aspectos como nostalgia, saudade e livre-arbítrio, Ana Spalter se destaca com suas composições certeiras e intimistas, porém peca na repetição e fomenta o desejo do ouvinte de escutar a obra com moderada rapidez. Fazendo jus a composição da capa, o álbum pode ser definido pelos seus próprios elementos: assim como um circo, pode ser excitante para alguns, e entediante para outros.
Selo: Tratore
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira / MPB, Pop