Crítica | hickey


★★★★☆
4/5

O que mais me pega em hickey, novo álbum do Royel Otis, é justamente essa vibezinha indie de “quero viver a vida, rodar o mundo”. A faixa de abertura, “i hate this tune” conceitua isso, é divertida, energética e tem um refrão impactante, aquele tipo de faixa inicial que te convida a embarcar numa experiência sonora sem pensar muito.

Em 2024, o duo me fisgou com os covers de “Murder on the Dancefloor” e “Linger”. Ali percebi que eles não eram só mais uma dupla indie-pop australiana, havia carisma e um jeito despretensioso de lidar com músicas que já tinham dono no imaginário coletivo. Agora, em hickey, eles assinam um repertório próprio que mostra muito amadurecimento e uma roupagem nada autêntica mas interessante.

good times” é uma faixa muito próxima de Foster The People, talvez isso tenha me encantado ainda mais. Já “come on home” é puro deleite instrumental, onde o vocal tem peso e entrega segurança, emergindo equilíbrio entre intensidade e leveza. A sequência de faixas tem uma linearidade inteligente, alternando momentos mais altos e agitados com passagens médias ou de energia mais baixa, criando respiros que deixam a audição mais dinâmica.

O álbum puxa referências de todo canto do indie pop, temperadas por nuances de folk e um certo toque psicodélico que surge nas camadas de arranjo. Não é um trabalho que se propõe a ser inovador, mas a construção é consistente, bem cuidada e, principalmente, prazerosa de ouvir. É um disco leve, daqueles que cabem bem tanto em um show cheio de gente quanto numa tarde de verão.

Dá pra sentir essa confiança em várias passagens, o duo parece se divertir com o que estão fazendo. Em “who’s your boyfriend”, por exemplo, eles brincam com sintetizadores e batidas uma pegada new wave para falar de incertezas amorosas. Já “shut up” traz um paradoxo emocional, meio entre querer afastar e ao mesmo tempo manter por perto. E “say something”, claramente inspirada pelos anos 80, traz um pulso pop que flerta com “Take On Me” do A-ha ou até mesmo “Dancing With Myself” de Billy Idol, sem vergonha nenhuma de assumir as influências.

hickey é um daqueles discos que não precisam reinventar o gênero para serem relevantes. Ele traduz bem sentimentos de amor, romance e insegurança, mas de uma forma que soa honesta. Provando que Royel Otis encontrou um ponto de autoconfiança criativa e que esse amadurecimento amplia muito o alcance da sua música e de novos trabalhos relevantes.

Selo: Ourness
Formato: LP
Gênero: Pop / Indie

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

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