Crítica | Body Lapse


★★★☆☆
3/5

Há duas coisas estranhas sendo feitas aqui. A primeira, e mais óbvia, são as batidas desorientadas de Rian Treanor, criadas a partir de dispositivos que ele manipula como Björk naquele vídeo em que explora a parte de trás de uma TV de tubo. A segunda são os vocais de Cara Tolmie, que canta entre grunhidos, às vezes proferindo as palavras como se fossem facas penetrando em seu estômago. O esforço de ambos para unir essas duas forças é colossal, e chama atenção o fato de que isso funciona.

A abertura, “As the Unified Field Bursts”, soa como golfinhos brincando num mar de pregos, nadando enquanto sentem o ferro dos instrumentais de Rian perfurar suas peles, descritas pela emoção de Cara. “Out Of”, por sua vez, volta-se para um minimalismo penetrante, com Cara proferindo palavras calmamente enquanto batidas secas – que habitam algum espaço do UK bass – e lasers dispersos dão ritmo à faixa, que se destaca das demais por abandonar o espírito aventureiro de outrora. Deixa claro o tom de inovação que Body Lapse ocupa como dispositivo tanto musical quanto tecnológico e de linguagem.

Inuti - I” é o domínio perfeito disso tudo. Cara programa cortes em sua voz, ela mesma os interrompe, impede que se estendam pela confusão de fundo que Rian cria com sons agudos, metálicos e de alta precisão, servindo como tratamento exterior às melodias tortas e derradeiras que constroem juntos. Você provavelmente nunca ouviu absolutamente nada parecido com isso.

Selo: Planet Mu
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Experimental

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

Postagem Anterior Próxima Postagem