
★★★☆☆
3/5
3/5
Em “Jerome”, faixa que abre Michelangelo Dying, Cate Le Bon canta um conjunto de palavras até que curto ao longo de pouco mais de quatro minutos. A música funciona como uma amostragem completa do disco: cordas que recebem um tratamento sintético robusto, pontas de sintetizadores que ecoam como pano de fundo, e os instrumentais que instigam uma beleza escondida, revelando o quão diferentes são de usos parecidos em sua discografia, como em Crab Day, ainda que lá o ritmo fosse mais alegre, e menos trágico que aqui. Por fim, a voz de Cate, que canta como se declamasse, imprime o tom enxuto de suas colocações, com uma lírica moderna que desperta diferentes percepções. Todas elas convergem para a sua frustração, distante de melodramas, mas marcada por uma certa frieza e um cuidado próprio ao dizer o que se pretende após uma separação e o retorno ao lar.
“My body as a river, a river runnin’ dry”, canta ela em “Body as a River”, um dos pontos altos de Michelangelo Dying justamente por traduzir seus anseios do momento e também por empregar figurações e comparações externas que dão substância à sua lírica contrastante – enxuta, mas muito direta. Pessoalmente, não conheço ninguém que trabalhe da mesma forma que ela, sobretudo por acrescentar sentido a tudo isso, como se compreendesse exatamente a forma de escrever, musicar e nos oferecer um pedaço de si mesma. É a partir disso que este disco se constrói. É lindo, ainda que seus acordes e ritmos dependam muito da persuasão e da magnitude dos pontos que ela estabelece em suas letras. É um trabalho conjunto, uma unicidade impressionante. Um disco cuja técnica realmente salta aos olhos, e que ela o faz sem jamais parecer vazio de conteúdo.
Selo: Mexican Summer
Formato: LP
Gênero: Pop / Art Pop