Crítica | Yards


★★★☆☆
3/5

De repente, um dos jargões mais populares da cultura de massa no Brasil fez todo sentido: foguete não tem ré. O funk também não. O gênero atravessa um de seus períodos de maior reconhecimento, tanto em nível nacional quanto mundial. É quase impossível determinar onde ele está, com quem e de que forma. Há quem o use de maneira tosca – o que acontece com frequência nas faixas mais populares –, mas há também quem saiba explorá-lo de forma interessante. É o caso de Yards, EP de T.NO. Natural de Amsterdã, o artista insere o funk em uma mistura com outros estilos da chamada música eletrônica urbana. Em “Benders”, por exemplo, ele utiliza uma das acapellas mais conhecidas dessa recente expansão global do gênero, sobrepondo-a a batidas de UK grime e a sinais de outras referências que atravessam a lataria gasta de ambos os estilos.

A segunda faixa, “Yards”, é menos direta no uso do funk, mas o faz de modo ainda mais inventivo. Começa com caixas de banda marcial – que o próprio T.NO descreve como tambores militares – e se torna mais intensa justamente por isso, acentuando a batida com acenos ao kuduro e com os golpes de um techno que dá novo sentido às acapellas de funk, reinterpretadas sob a ótica da eletrônica que se espalhou pelas ruas da Europa. Essa intersecção é brilhante porque não implica apagamento nem descaracterização. Muito pelo contrário: mostra que o funk, indomável, encontra sempre novos caminhos de produzir os mesmos impactos, ainda que em outros lugares, com outros gêneros e de outras formas.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Eletrônica

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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