Entre nós: West End Girl - Lily Allen


Leia o que os nossos redatores Matheus José, Lucas Granado, Lu Melo, Davi Landim e Viviane Costa acharam do novo disco de Lily Allen.

De vez em quando, nossos redatores se reúnem em torno de um disco de destaque – seja pelo lado positivo ou negativo – para compartilhar de forma ampla a visão coletiva sobre a obra em questão. É quase um papo entre nós, e o escolhido de hoje é West End Girl, de Lily Allen.



Matheus José: Lily Allen realmente quer que tenhamos empatia por ela na forma como expõe, em West End Girl, os rumos que seu relacionamento tomou diante de traições e manias quase tóxicas do ex? Pessoalmente, não consigo me convencer, já que suas narrativas sofrem de uma impessoalidade chocante. Seu som parece desprovido de profundidade, digo, a “produção”, como costumam chamar a composição sonora, é oca. No fim, trata-se apenas do álbum de uma mulher branca tentando impressionar a todos ao jogar merda no ventilador, buscando arrancar suspiros do ouvinte com sua suposta genialidade e temáticas cortantes que instigam sofrimento. Não nos esqueçamos, porém, de que essa é a Lily Allen ácida, despreocupada, a mesma que uma vez se fantasiou de Dr. Luke justamente quando Kesha fez acusações de abuso contra ele, e depois disse ser uma demonstração de apoio à ela. Ora, faça-me favor. Não há como não misturar as coisas. O 143 de Lily Allen está bem aqui.

Lucas Granado: Eu tenho a impressão que a Lily Allen sempre faz um álbum quando quer falar mal de alguém, e ela faz isso muito bem, mas a questão é: e quem não faz? Acho que nesse caso, temos uma justificativa boa pra isso que envolve as experiências de um término sofrido e sentimentalmente abusivo, matéria prima de muitas coisas boas (e ruins) já lançadas. Estava com preguiça de ouvir esperando uma coleção de músicas ácidas como ela sempre fez, mas direcionadas a um tema comum, o que poderia ser algo desinteressante, cansativo e até clichê. Porém, me surpreendi com o fato de que, além da sua língua de trapo, a artisticidade da cantora esteve mais acesa do que nunca, tornando a audição uma experiência bastante criativa e estranhamente cativante, resumindo: ela não foi óbvia! As letras causam um constrangimento intenso pois são até confessionais demais, porém quando a sensação de queimação alivia, encontramos um espaço “relatable” e confortável, com melodias líricas catchy e umas gracinhas musicais inusitadas, aproximando-se timidamente do drum and bass e da música latina. Eu não queria admitir, mas gostei, me identifiquei e me diverti, mesmo que eu ainda esteja do lado da cachorra abandonada por ela anos atrás.

Lu Melo: Lily sempre utilizou o sarcasmo e a ironia a seu favor, com foco em suas composições, que são nada superficiais, mesmo ao contar suas decepções amorosas, e movida pela raiva natural de falar mal de alguém. Em West End Girl, seu objetivo de vida, musicalmente falando, continua o mesmo. Após o fim do relacionamento conturbado com o ator britânico David Harbour (Stranger Things), a cantora transforma uma tragicômica “fofoca” entre famosos em uma reflexão sobre poligamia e gaslighting. As letras são propositalmente e proporcionalmente desconfortáveis, atingindo o peito direito do ouvinte, enquanto a voz quase falada da artista nos encaminha para direções sombrias sobre sua experiência com o intérprete de Hopper. Do pop mais chiclete até o synth pop dançante em “Pussy Palace”, Lily controla a narrativa do LP sem esconder seus próprios defeitos. Ouso comparar o disco com lançamentos recentes como The Tortured Poets Department e The Life of a Showgirl, que carecem do que mais Allen acerta: ser realista e honesta com os seus sentimentos.

Matheus José: Discordo de Lucas. Se isso não é um álbum óbvio, na concepção de tudo o que ela expõe, compõe e canta, o que então é óbvio hoje em dia?

Davi Landim: Não sou um ouvinte assíduo de Lily Allen; sendo honesto, só ouvi o debut dela e não prestei atenção em seus trabalhos posteriores. Talvez seja por isso que o novo disco tenha me surpreendido tanto, afinal, destoa muito do que ela costumava a fazer nos anos 2000. O exagero de sintetizadores – fisgando um pouco da indietronica – foi o que mais me chamou a atenção, além das letras expositivas, mas sem quaisquer resquícios de vergonha alheia, como aconteceu em álbuns recentes da Taylor Swift, que narram o conturbado relacionamento da cantora com o ator David Harbour (ainda que haja algumas hipérboles no decorrer da lírica).

Viviane Costa: Ouço muito as músicas mais antigas da Lily mas o último trabalho que gostei dela foi em 2017. Achei o álbum bem ruim (ao meu ouvido, que gosta dela anos 00). Não tem UMA faixa sequer que eu tenha me impressionado. E apesar de toda a repercussão diante da temática do disco, devo concordar com o Lucas: quem não faz faixas “boas” após términos sejam eles de qualquer âmbito? Isso até se torna um pouco contraditório com o que falei anteriormente, mas é para reforçar que qualquer artista pode alcançar isso, e não é apenas uma particularidade dela. Talvez, eu precise ouvir novamente ou não.

Aquele Tuim

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