Crítica | É Ele Né



★★★★☆
4/5

O mandelão, vertente mais atroz do funk paulista, é caracterizado por batidas acentuadas, fluxo rápido, repetições baseadas em produção crua, além de graves estourados e som, às vezes, minimalista.

Todas essas marcas estão presentes em É Ele Né, de DJ Guina. Mais do que o som, absurdamente relevante, o álbum também contém a essência lírica do gênero, ou seja, letras que não poupam detalhes ao permear os acontecimentos que giram em torno do baile.

Mas aqui há uma missão específica: personificar o mandelão na perspectiva do autor da obra. DJ Guina é uma figura conhecida, que não esconde a intenção de impor a sua vontade a sua identidade no disco. Por isso o nome do álbum, É Ele Né, se repete bastante ao longo das faixas.

E, de fato, é impossível não ver o disco como um trabalho de Guina e seus convidados. Em faixas como "Buceta Criminosa" e "Educado É Meu Pau", por exemplo, a base se estende ao refrão explosivo, com batidas secas e, a partir daí, se dispersa entre os versos típicos do artista.

“Ai calica, responde uma coisinha / se eu sacar pra fora, você dá uma chupadinha?”, canta em “Ai Calica”, faixa marcada por distorções vocais vertiginosas e por algo que parece ser uma flauta de pã, quase antológica no Brasil, usada no decorrer da canção.

No final, "Tira a Camisa e Começa a Rodar", vemos a veia máxima do mandelão, que adentrou em muitos festivais de música eletrônica e fundiu o chamado rave funk — que usa elementos do psytrance para compartilhar a mesma sensação, porém, nos bailes da comunidade e não no meio da mata.

Guina consegue, no final de tudo, dar sentido à sua criação. Mais do que isso, consegue impor variedade ao mandelão, que, embora ainda vivo, vem perdendo muito espaço na cena paulistana.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk / Funk Paulista, Experimental
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

Postagem Anterior Próxima Postagem