Crítica | PANICO NO SUBMUNDO



★★★★☆
4/5

O funk paulista tem sido, nos últimos anos, o berço do funk como vanguarda da música eletrônica. Veja bem, as batidas acentuadas e a intensa reprodução de barulhos e ruídos que dobram a caligrafia do gênero tornaram-se tão presentes quanto qualquer outro tipo de abordagem na cena.

Aliás, é preciso dizer que houve um certo estranhamento com essas experimentações no início, principalmente por parte do público. Mas, felizmente, não demorou muito para que a atordoação musical virasse parte essencial dos bailes, ainda mais se fosse acompanhada da viagem programada pelo lança-perfume.

Hoje, com os virais no TikTok e o desencadeamento da difusão e promoção musical por meio dele, como aconteceu com o viral de "Puta Mexicana", do DJ Jeeh FDC, o funk paulista tem a responsabilidade de ser um grande bálsamo de o que há de mais novo e atraente do gênero em nível nacional — e global, por que não?

DJ K, então, senta ao lado de DJ Guina, que estourou os graves em É Ele Né, álbum também lançado este ano, para traçar mais uma reflexão sobre como tem se fortalecido a localidade do gênero em corresponder certas abordagens. E, embora partam de algumas diferenças, o trabalho dos dois DJs tem algo em comum, neste caso, a regionalidade do funk nos bairros de São Paulo.

PANICO NO SUBMUNDO é mais um disco comprometido com a missão de elevar o nível artístico do funk paulista em sua esfera de eventos alucinógenos. E, como a música eletrônica condizente com esse viés sempre permeou os espaços rave, extremamente elitizado, o funk buscou alternativas.

E aqui, o Baile do Helipa, que acontece em Heliópolis, virou o cenário perfeito. PANICO NO SUBMUNDO gira em torno desses fatores e, conceitualmente, possui equipamentos e apetrechos sonoros tão diferenciados quanto o de seus vizinhos, DJ Guina, DJ Biel e MC W1, djfuryzl e outros.

Mas o movimento é o mesmo: explorar o maximalismo do funk paulista sem a retórica do gênero. Ou seja, trazer a potência eletrônica à sua maneira, a partir de influências outras que não as fornecidas por DJs dispersos do epicentro da fusão, como os que usam o funk de maneira preponderantemente higienizada. Ao se esquivar dessas cifras, que representam um padrão recorrente, DJ K e outros nomes da cena paulista ganham ares próprios. É por isso que seu som soa tão transcendental e, acima de tudo, extremamente vanguardista.

PANICO NO SUBMUNDO e sua lista de faixas que beiram a insanidade, como "Viagem ao Oculto" e "Isso não é um Teste", talvez condense a máxima do funk experimental. Mas está longe de ser o único registro. Portanto, é preciso apontar a necessidade de um trabalho coletivo nessa transformação que vem injetando vida e propósito nesse mercado que ocupa poucos espaços. Ao liquidar nossos pensamentos, DJ K resume e presume todos esses fatores.

Selo: Nyege Nyege Tapes
Formato: LP
Gênero: Funk / Funk Paulista, Experimental
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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