Crítica | Trececerotres


★★★★☆
4/5

A peruana Daniela Lalita, em seu excelente EP de estreia, Trececerotres, de 2022, consegue conceber ao ouvinte uma viagem por sua ancestralidade matrilinear à medida que sua voz tem função de ferramenta que está em constante transformação, a qual se interliga muito bem com o fenomenal design de som que é criado a partir disso.

Os sons primitivos são uma das bases do projeto de Lalita; é uma inspiração que permite utilizar referências para vincular todos os aspectos ancestrais do Trececerotres, que se torna um projeto inovador devido à sua reprodução divinamente efetuada enquanto uma combinação de sintetizadores e bateria na produção, contempla a possibilidade do ouvinte não estar apenas ouvindo, mas de poder fazer parte dessa experiência ritualística transcendental de forma “física” e espiritual também.

Sua voz assume diferentes formatos sonoros para se enquadrar na proposta da obra: seja distorcendo-a, alterando suas entonações, combinando-a com outros elementos, sobrepondo-a entre si ou unindo-a ao excelente design sonoro, é surreal como seu timbre, ao longo do projeto, se transforma em algo que a cada momento acompanha e se enquadra na multiplicidade de mundos musicais que está sendo produzido pela artista, sua voz é o objeto principal que dita tudo, ela é o centro, o restante apenas complementos.

Antes de tudo, Trececerotres é uma obra para ser escutada com atenção, a misticidade atmosférica e o trabalho mágico vocálico da intérprete pede que o receptor se mantenha em concentração para que não perca uma experiência artística como essa.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Experimental / Eletrônica
Joe Luna

Futuro graduando de Economia Ecológica (UFC), 22 anos. Educador ambiental, e redator no Aquele Tuim, onde faço parte das curadorias de MPB, Pós-MPB e Música Brasileira e Música Latina/Hispanófona. Além disso, trago por muitas vezes em minha escrita uma fusão com meu lado ambientalista.

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